Sou um sabiá exilado
Cercado por todos os lados
Por muitas incompreensões
Mas sei tecer canções
Não tão belas
Como fazê-las diante de tantos
Rouxinóis
Borges Lorca Neruda
Como tecê-las diante de tantos
Teares
A linha crua das letras
Bandeira Drummond Quintana
Como dizer como disse
Remover a pele da palavra
Dilacerar-se de paixão
Como Florbela Adélia Clarice
Mergulhar no azul do mar
Na metafísica do vocábulo
O fruto a se estragar no relógio
Como faz Gullar
Construir o árido verso belo
Montar tijolo por tijolo
Cimentando os sentimentos da poesia
Como João Cabral de Melo
Escrever os sulcos da lavoura
Na memória da enxada
Cantos de uma ave nativa
Como o cantador Patativa
Uns ais sem cais
Sem os liames da ternura
Flor sem a nervura doce estames
Como os sonetos de Vinicius de
Moraes
Remover das metáforas no borralho
O mais profundo dos sentidos
Colocando os significantes pra fora
Como Francisco Carvalho
Sou apenas um melro
Um mero poeta a gruir
Diante da revoada destes pássaros
Bico calado diante destes uirapurus
Luiz Alfredo - poeta
Pássaros cantam
ResponderExcluirEra um poeta em crise existencial
Que se vê como pássaros no quintal
E renega o que sua mente encana.
Como ser nobre sem ser Quintana?
Colorar em palavras de aquarela
Sem parecer a fabulosa Florbela?
Escrever sem nunca se locupletar
Como sempre o fez Ferreira Gullar?
E lhe vêm os passarinhos então
Que estes tantos outros imitarão
Mesmo que estejam em revoada
Não lhes acode imitar ninguém
Porque canto natural lhes vem
E pelo canto não cobram nada.