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sábado, 23 de janeiro de 2016

Menino não brinca com balas


Não brinque de guerra
Menino
Isto pode um dia se tornar
Real

Brinque de boneca menina
Esta veio da vitrine
Do sofrimento do trabalhador

Um dia
Não vai ser de brincadeira
Ela vai chorar de verdade
E sugar mamadeira
A brincadeira dura um dia
A verdade a vida inteira

Não brinque de matar pássaros
Com baladeiras
Seus cantos um dia podem fazer
Falta
Para você
E para o amanhecer

Brinque de pião
Empinar papagaios
Boneco duro
De cavalo de pau
Brinque com os ventos
Do milharal

Brinque de desenhar
Cogumelos flores borboletas
Numa folha de papel
A declamar poemas de cordel
A rimar japim com passarim
Balido de ovelha
Com mel de abelha



segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Teus olhos fugazes

Querer a luz dos teus olhos
Pra mim
É como quere os raios do sol
Deste lindo dia
Acariciar suas sombras
Beber os ventos que balouçam
As folhas das palmeiras
Adoçam seus frutos
Adornam suas flores
E querer os gorjeios dos pássaros
Os versos dos poetas exilados
O murmúrio dos córregos
O lindo luar que banha o sertão

Querer teu intrépido coração
Pra mim
É querer estas ondas deste mar
Bravio
Que vem tocar suavemente
As brancas areias desta linda praia
Depois volta a ser uma crista revolta
Querer teu eterno amor
Teus lábios de mel
E como querer a efemeridade da flor
A eternidade azul do céu
A crisálida não dura para sempre
Chega à hora que cria asas
Vira borboleta e vai embora

Eu sei disso meu amor
A tempestade tem me ensinado
O devir do rio da minha aldeia
A metamorfose da lagarta
A dialética do dias e das noites
Não podemos ser dono de nada
Por que tudo passa
Tudo é volátil demais
Fugaz
Tem a sua hora
Agora há
Logo depois jaz
Mas tem o momento
Que nos causa este sentimento
De eternidade
Em que podemos tomar um chá
Escutar um jazz
E aprisionar por uns instantes
A eternidade.



segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

No meio do meu Ureter

No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra  
tinha uma pedra no meio do caminho  
tinha uma pedra  
no meio do caminho tinha uma pedra. 
Nunca me esquecerei desse acontecimento  
na vida de minhas retinas tão fatigadas.  
Nunca me esquecerei que no meio do caminho  
tinha uma pedra  
tinha uma pedra no meio do caminho  
no meio do caminho tinha uma pedra 

                        Carlos Drummond de Andrade - poeta
                            
En Revista de Antropofagia, 1928 
                                     Incluido en Alguma poesia (1930)

 


No meio do meu ureter tinha uma pedra
tinha uma pedra de 1,20 cm
tinha uma pedra no meu ureter
no meio do meu ureter tinha uma pedra

Nunca esquecerei deste acontecimento
nas minhas vias urinárias tão machucadas
Nunca esquecerei que no meio do ureter
tinha um cálculo renal
tinha um cálculo no meio do ureter
no meio do meu canal um inerte cálculo

              
                                        Luiz Alfredo - poeta

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Ser Poeta - Florbela Espanca - Cantado por Luís Represas



Era uma flor tão bela
Poeta
Florbela
Alama de versos apaixonados
Em sonetos soletrados
De paixão
Versos metrificados
Bordados
Mas arrebentavam as bordas
O tempo
As épocas
E viraram belas canções
Violeta que violentava
Jardins
Pomares
E a mim
Crisântemos roxos
Lágrimas do Alentejo
Vaporosa
Florbela Alma da Conceição
Nem o veneno apagou twu semblante
Nem teus versos lusitanos
Insanos
Elegantes
Versos que levaram minha alma
À perdição
A balbuciar uma paixão
Incompreendida
Levou-me a uma vida perdida
Embriagada de versos
A uma conturbada canção
De amor
Uma magnólia na lapela
Poemas de pura perdição






terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Uma Tarde de Blues


Era só um blues
Que saia do radinho de pilha
Pela janela de cortinas floridas
Mais enchia aquela tarde crepuscular
De acordes
E versos amargurados
Letalmente lindos
Por entre  os decotes
Dela
Quebrando as aldravas das cancelas
As babeis dos quintais

A noite chegava
Com seus vaga-lumes meio-escuros
Meio lumes
E o luar perplexo
Não sabia o que dizer
A noite agora era um blues
Estrelado
Varando madrugada
Adentro
Deixando os corações
Uma pilha de nervos alumbrados
Emblueserados

As pilhas daquele radinho
Pareciam que tinham sido carregadas
Pela eternidade
E aqueles blues cantados
Por uma sinfônica
Mas era apenas um negro homem
De dedos longos
Lá do médio Mississipi
Com seu machucado violão
E sua gaita amassada
Com sua blusa desabotoada
E seu coração bluesado