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domingo, 23 de março de 2014

O Espantalho e a Lavoura de Libélulas



A sensibilidade mora na solidão
Das pedras
Nas ondas que lambem
Os corais
Nas longínquas estrelas
Que agora são apenas luzes
A viajar nas retinas do meu olhar

Nas marés do mar da serenidade
Do luar
No silencioso violoncelo a dormir
Encostado na parede
Nos filamentos dos pirilampos
Queimando nas madrugadas
Nas chamas da lamparina
Escrevendo com as pestanas
Insones
Versos de abandono
E paixão

Nas orquídeas que bebem
Os orvalhos encharcados das chuvas
Nos soníferos que dormem
Nas pétalas das papoulas vermelhas
Que tecem nas suas entranhas
O látex que aliviará as dores
Do mundo
E encantará as paranóias
E viram prismas nos lapsos
De uma jóia
Cortada em corte profundo

Chega um tempo em que os olhos
Não querem mais dormir
Eles sabem que a mariposa
Está ali
A xícara de café
O frasco de cápsulas de pílulas
Logo mais a aurora vai surgir
Com seus raios azuis
Seus colibris
Mas agora a via-láctea me acalenta
Em seus seios
E me faz beber o leite
Dos versos parnasianos
Outros insanos
Versos que me fazem lembrar
Dela
Mas é chegada o tempo
Em que alguns verbos abstratos
Como amar
Tornam-se uma penumbra
Um espinho sem rosas
Sem cactos
Mas que ficam ferindo a alma
Da gente

Mas o vento frio é real
E entra pelas narinas
Pelos poros
Murmura canções nos meus
Ouvidos
Tempo em que as vísceras
Não podem mais chorar
A sensibilidade mora nos rebanhos
Balidos
Nos cabelos do milharal
Nos alaridos do vento
No mel dos hexágonos
Nas lavouras que bebem
As nuvens escuras
Nas flores fecundadas

E a vida agora são os músculos
Da minha enxada
Minha foice amolada
Meu espantalho de braços
Abertos
Cuidando das minhas libélulas
E a mão do meu pilão
Com quem escrevo meus versos
E piso meus grãos.


                         Luiz Alfredo - poeta






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