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sábado, 25 de abril de 2015

Como era o nome dela



Ela bela na janela
Não é Joana nem Maria
Não é sicrana nem diria
Eu sei lá do nome dela

Não é Carolina nem Gabriela
Apenas sei que é mui bela
Nem a rosa nem o sol
Nem o girassol e o arrebol

Tem mais formosuras que ela
Lábios rubros de groselhas
Um velho a olha de esguelhas

O espantalho no campo
Rouxinol canta no galho
Encantados ao seu encanto

quarta-feira, 22 de abril de 2015

MAÇARICO




M A Ç A R I C O
COM
       BICO
            CAÇA
ELE
        A JAÇANÃ
                  A GARÇA

A PIABA
        O CARA
             A PIRAMUTABA

NO RIO
           GARAPÉ
                  IGAPÓ

ELE
     O JABURU
            E O SOCÓ

NO AGUAPÉ
     NA VITÓRIA – RÉGIA
        IFEIAS

MAÇARICO
               BICO
    ARISCO

NUM RISCO
        BORBULHA
VISCO

VISGA
    A LARVA
     O ALEVINO
            O JIRINO

ASSIM
      VIVE
         SEU DESTINO

ELE
   A GAIVOTA
          O JACAMIM









terça-feira, 21 de abril de 2015

BEM-TE-VI





                   I
BEM – TE-
                   V
ES
UMA
NOTA
NA
PAUTA
DE
LUZ

UMA
CANÇÃO
AO
SOL
EM
SOL
SUSTENIDO

PEITO
AMARELO
ESTENDIDO
NO
FIO
SUSPENDIDO
DE

LUZ

domingo, 19 de abril de 2015

Ainda Sobrou um Dia





Antes de Cabral e Colombo
Eram todos os dias
E todas as noites eram suas
Com as naus vieram os maus
Com seus hálitos de pólvoras
Contaminados
Seu norte imantado
A morte montada a cavalo
Seu bacamarte engatilhado
Seu pescado defumado
Seus delírios
Seus destilados
Seus ais
Seu colonialismo escravocrata
Seus governos gerais

Com suas caravelas de panos
O espelho com suas ilusões
De óticas
Suas missas em latim
Suas premissas enfim
Quase sem fim
Seu falar lusitano
Calaram o tupi
Venceram o tacape
Apagaram o urucum
Da sua face
Calou a flauta de sua boca
Vestiram sua nudez de roupa
E numa escritura de disfarce
Sua aldeia


Seu calendário gregoriano
Deixou apenas um dia
O dia do índio
Quase extinto no litoral
Perseguido na Amazônia
Dia de Santa Ema da Saxônia




Minha riqueza inesgotável



Com meus pobres versos
Vou construindo minha riqueza
Poética
Mesmo emprestando a poesia
Do poeta revolucionário da Rússia
E do poeta de Russas
Eles não me cobram juros
Nem das entrelinhas nem das reticências
Nem das metáforas
O lucro é todo pra mim

Com minhas pobres rimas
Vou tecendo a poesia todo santo
Dia
Toda santa noite
Com suor vou plantando
Minha lavoura
Meus delírios
Vou vestindo meus girassóis
E meus lírios
Claro que nunca serão
Tal como os provérbios de Salomão
Nem uma estrofe divina
De Tagore

Mas serão poemas do meu pobre
Coração
Pobres poemas de uma paixão
A não se apagar
Declamados no cálice da noite
Ao luar
E para imensidão estrelar
São silabas inacabadas como as estrelas
Que não podemos contar

Alguns eu queimo nas lamparinas
Nas crinas das estrelas cadentes
Na colher de absinto incandescente
Nos fulcros ardentes dos vaga-lumes
Alguns eu apago no látex defumado
Da seringueira
Outros eu afogo nas ondas bravias
Do mar


quinta-feira, 16 de abril de 2015

M A S C A N D O











         C  H  I  C  R  E  T  E




            R 
                       H 
      I

                  C           E

                         T     
                  C    
                           E


                          Luiz Alfredo - poeta




Sonhos em versos: Brincando de azuis e pássaro...numa tarde de sábad...

Sonhos em versos: Brincando de azuis e pássaro...numa tarde de sábad...

O L H A N D O



O   L  H  A  N  D   O


Vi-te completamente nua
Nem o espelho desvirtuou tua imagem
Nem iludiu meu olhar
Completamente despida
Sem nenhuma máscara
Sem nenhuma maquiagem

Claro uma leve sombra
Uns contornos em tornos dos olhos
No piscar era um pássaro
Ora um cisne negro
Ora um negro corvo
Um negrume nas pestanas
Parecia bordada pela noite

Nos lábios uma floresta de batom
Parece que estudou a equação do arco-íris
Conhecia o polidor de lentes
E o hospede do profeta sem morada
Era pura tresloucada paixão
Balbuciava sonetos de Camões
Nos ouvidos dos lampiões
Conversava com as mariposas
E com as chamas da lamparina

Nua como a lua cheia em Canoa
Sem a máscara de Veneza
Sem fantasias
O pingente de ametista estava lá
No umbigo
Os exóticos brincos
Instrumento de uma linda canção
Transcendente
Nua
Tão pura como um riacho de água
Pura
Sem máscaras

Mas depois descobri que a nudez
Tem sua tez
Que tem as suas máscaras
Até escreve poemas de altivez
Alguma vez
Garatuja pedaços da sua insensatez

Com um batom vermelho no espelho

quarta-feira, 15 de abril de 2015

POEMAS DE CHUVAS



POEMAS DE CHUVAS


A chuva escreve alguns belos
Versos
Com suas gotas de nuvens
No meu corpo
Alguns são versos respingados
De antigas paixões
E lembranças

São versos que tocam meu ser
E molham a minha alma
De prazer
As pétalas das rosas
As transparências das vidraças
A sombrinha da menina que passa
Dão de beber minha cacimba
Vazia

A chuva que cai
Escreve seus sonetos e haicais
Nos meus ais
Meus olhos choram lembranças
Lágrimas que se misturam
Com as águas
Que se esvai por estes esgotos
Ocidentais
Levando minhas mágoas

A chuva nos seus versos
Não ouvida nenhum pingo nos is
Nem nas cútis das margaridas
Nos telhados
Nas calçadas destas avenidas
É ela quem mata a sede
Desta vida

Às vezes tão ressequida

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Alceu Valença e Orquestra Ouro Preto - Cavalo de Pau






Meus pais levaram-me ao psiquiatra
Depois que me viram conversando
Com as papoulas encarnadas
Com o espantalho do milharal
Ficaram preocupados
Quando souberam que namorava
Uma nereida do igarapé azul
E da minha amizade com o camaleão
Dos barrancos

O psiquiatra apenas me perguntou
O que falo com eles
E se esta nereida existia
Nunca revelarei os segredos do espantalho
Muito menos as parábolas dos milhos
E dos corvos

Se ela não existisse meu coração
Não estaria doudamente apaixonado
Eu não seria um bardo
Escrevendo versos enamorados
Ao luar
Nas chamas da lamparina
Nas asas das mariposas atordoadas
Nas cordas do violão

Ele ainda perguntou
O que pode uma papoula me dizer
Ele não sabe que as joaninhas
E os besouros têm suas gramáticas
E suas línguas mortas
E as lindas papoulas têm as suas revelações
Alucinações
Mas como dizer

O laudo foi uma esquizofrenia
Acentuada
Consultou anfetaminas e umas vitaminas
E ele nem soube que passeava pela vida
No meu cavalo-de-pau
E que navegava nos lagos e rios
Num cavalo-marinho
E que andava pelas galáxias
Num unicórnio...  



terça-feira, 7 de abril de 2015

Calma Vila



Claro são os olhos do dia
Suas pupilas é um sol brilhante
Suas retinas prismas de um diamante
Seus óculos escuros uma poesia
Ultra-romântica

Aquela vida que ia calma a todos
Os lugares
Aquela vila quase calada silenciosa
Bucólica
Um verão cheio de andorinhas
Uma igrejinha católica
Seu sino conhece uma bela canção
Um hino em forma de oração
O cata-vento tritura o vento
Com suas hélices eólicas
O moinho tritura as parábolas
Dos grãos
Tudo que passa nessa vila
Vai devagar
A orquídea de muitas luas
A gravidez de algumas flores
A procissão levando seu andor
O beija-flor osculando a hibisco
A lavadeira com a trouxa na cabeça
A rendeira com seu bordado rendados
De eternidade
O terço rezado no terreiro


Mas um dia a dialética cresceu
E na sua antagônica mudança
Levou minha esperança para outros
Alhures
Lugares agitados
Que a noite de fumaça não deixa
Ver seus quasares
Seus luares são nublados
Não consigo ver os reflexos estelares
Nos teus esgotos programados
Seus poemas concretos dizem
Tudo numa palavra
Seus muros de cimento
Onde quaro meus poemas pichados

Mas não esqueci a escola
Onde não aprendi a escrever
O canto da sabiá
Os músculos desenhados da canoa
O boi-bumbá
E a Maria-Fumaça
E as tardes quentes numa cuia
De tacacá

E eu pensava que tudo aquilo
Nunca ia acabar


domingo, 5 de abril de 2015

Depois das Cigarras



Mamãe não sabia
Que meu português na escola
Era ruim
Nota baixa no boletim
Mas que eu já lia Spinoza
Em latim
Eu aprendia a gramáticas dos besouros
E joaninhas
Eu conversava com as flores
E bem-te-vis patativas e colibris
Eu corri atrás do coelho e dialoguei
Com o gato enigmático
E mergulhei no espelho
Quando conheci a Lucy
Já tinha bebido os orvalhos
Das papoulas
Sou da era das canções mortais
Nervura ancestral
Que rolou no eterno vinil
Versos das entranhas
E a agulha arranhava a vida
Nesse tempo o sonho parecia
Que nunca ia acabar
Poeta das moneras
Poeta das paixões descabidas
Tabernas embriagadas
Anfetaminas tragos chamas alucinadas
Primeiro animal que aprendeu a falar
Foi o homem e a mulher
Depois as guitarras 
Os crisântemos sempre foram calados
Mas quem tocou a primeira canção
Foi o vento na pele do bambu
A GESTAPO não perseguia somente 
Lukács
Mas a menina que tinha alma negra


quarta-feira, 1 de abril de 2015

A LA LEMINSKI






A LA LEMINSKI

                            Ao poeta e mestre Júlio Rocha






Nem todo minuto

                     É poemático

Nem todo Poema

É eterno

                Alguns são fugazes

Outros Brancos

            A L G U M


Rima