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sexta-feira, 21 de março de 2014

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Sou um sabiá exilado
Cercado por todos os lados
Por muitas incompreensões
Mas sei tecer canções

Não tão belas
Como fazê-las diante de tantos
Rouxinóis
Borges Lorca Neruda

Como tecê-las diante de tantos
Teares
A linha crua das letras
Bandeira Drummond Quintana

Como dizer como disse
Remover a pele da palavra
Dilacerar-se de paixão
Como Florbela Adélia Clarice

Mergulhar no azul do mar
Na metafísica do vocábulo
O fruto a se estragar no relógio
Como faz Gullar

Construir o árido verso belo
Montar tijolo por tijolo
Cimentando os sentimentos da poesia
Como João Cabral de Melo

Escrever os sulcos da lavoura
Na memória da enxada
Cantos de uma ave nativa
Como o cantador Patativa

Uns ais sem cais
Sem os liames da ternura
Flor sem a nervura doce estames
Como os sonetos de Vinicius de Moraes

Remover das metáforas no borralho
O mais profundo dos sentidos
Colocando os significantes pra fora
Como Francisco Carvalho

Sou apenas um melro
Um mero poeta a gruir
Diante da revoada destes pássaros
Bico calado diante destes uirapurus


                                 Luiz Alfredo - poeta






Um comentário:

  1. Pássaros cantam
    Era um poeta em crise existencial
    Que se vê como pássaros no quintal
    E renega o que sua mente encana.
    Como ser nobre sem ser Quintana?

    Colorar em palavras de aquarela
    Sem parecer a fabulosa Florbela?
    Escrever sem nunca se locupletar
    Como sempre o fez Ferreira Gullar?

    E lhe vêm os passarinhos então
    Que estes tantos outros imitarão
    Mesmo que estejam em revoada

    Não lhes acode imitar ninguém
    Porque canto natural lhes vem
    E pelo canto não cobram nada.

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