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domingo, 23 de fevereiro de 2014

Retinas Deslumbradas.





Emaranhados estão os teus olhos
Por tantos vislumbres enluarados
Tantos crepúsculos contemplados
Por tantos amores apaixonados
Trens partidos

Metáforas de quânticos sentidos
Sonetos inacabados
Versos interrompidos pela falta
De tinta
Na ponta da pena
Na fita da máquina de datilografia
Um acorde silenciado

Momentos que deixastes de ser bardo
Para acender a lamparina
E dar comida ao gato
Lavar um prato
Coar um café

O poema pela metade
Grafites quebradas
Filetes de luzes do sol
As nuvens turbulentas
Mas ele continua a brilhar
Escrevendo seus arco-íris
Com suas cores no arrebol
Nas gotículas liquefeitas
De H²O

O silencio que canta no bico
Do rouxinol
O copo de água pelo meio
As palavras de per meios
A xícara de chá fumegando
O cachimbo de flores sonolentas
A via - Láctea com seus belos
Seios

O unicórnio sem arreios
Voando pelos céus em plena
Liberdade...


                     Luiz Alfredo - poeta


sábado, 22 de fevereiro de 2014

Cais de um Antigo Porto


O tempo mudou a tua face
E a minha também
Não nos reconhecemos na esquina
Do tempo
E nos espaços transtornados

Não encontrei na rua
Da minha infância
O flamboyant nem o beija-flor
O cercado de flores amarelas
Nem o pé de fruta – pão

Ficaram apenas as lembranças
Dos velocípedes
Cálido tacacá que queimava
Meus lábios
Gélido sorvete de cupuaçu
E o hálito das estrelas

As rugas do meu rosto
sobressaltado
E o viaduto pendurado no céu
De cimento armado
O caminho do asfalto negro
Apagou as margaridas
E crisântemos selvagens

O compasso do tempo esboçou
Um arranha-céu
Silenciou o murmúrio do riacho
Cristalino
O peito-roxo a cigarra o cagacibite

Apagou as parábolas da mangueira
Repleta de japins
Exilou os pássaros que acendiam
A aurora
Levou-os para um pretérito distante
Opaco na memória
Apagado na estante

Os papagaios de papel crepom
Coloridos
Que subiam aos céus
Com suas asas de buriti
O pião na palma da mão
ferida pelo cerol amolado
As bolinhas vidros transparentes
Foram apagadas para sempre

E eu fiquei perturbado
Diante dos semáforos da existência
O ser e o nada estavam ali
Bem de frente das minhas retinas
Cheias de idades...

Tantas saudades


                                   Luiz Alfredo - poeta








quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Cai n água Ilusões


Rio que devora os barrancos
Da minha Vila Calama
Apagando as chamas das lamparinas
Os filamentos dos vaga-lumes
Perturbando as constelações
As rotas dos mandis
A primavera das flores do biriba
Dos tambaquis
Afogando os igapós
Os cipós de apuís

Rio que leva nas suas turbulentas
Águas
Meus sonhos que deixei
No Cai n água
Lembranças de antigos amores
Tremores
Vislumbres
Vapores
Sei agora da tua dor
Crepúsculos aquarelados de tantas
Cores
Sem o balé do boto tucuxi
Os gritos das gaivotas
Do Martim – pescador

Deixando saudades das tuas alvas
Praias
Ensombradas pela minha paixão
Meu olhar molhado pelo teu remanso
Banzeiros
Que molharam meu corpo
E encheram de poemas meu pobre
Coração

Em vão morrem afogados
Nas águas Madeira

                     

                           Luiz Alfredo - poeta




quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Devaneio nesta tarde...

Acostumei-me com teu aroma
Das comidas
O som profundo das batidas
Dos socos do pilão
Essências
Que teces nos teus tachos
Teus cachos
Tuas lavandas
Tuas lendas
E riachos de sentimentos
Bulas de remédios
Apenas
Não bulas com meu coração
Ele é meio tonto
Gosta de acreditar em paixão
Novela de televisão
Poesia de cordel


Acostumei-me com tuas penumbras
Com teus soluços ocidentais
Teus bocejos notívagos
Aprendi que tua poesia
Você escreve na parede fria
Do cimento gélido
Esverdeado de musgos
Esverdeados
E fungis prismáticos
Sem nenhuma palavra
Mas gosta de contar seus veraneios
Seus devaneios
Acalentar-me nos seus seios
Quando estou completamente
Perdido


Nem cava na tabua
Tirando os pedaços da madeira
Que não é o rosto
Nem fechando os lábios
Da flauta
Para fazer a louca sinfonia
Daquele dia
Nem lendo um poema
Do Gullar
Tentando fazer um soneto
Lendo um conto do Machado
E aquele último poema do Bardo
Joaquim Sousa
Poeta cearense que foi morrer em outros
Mares
Com seu ultimo poema no bolso
E um vintém

Vou entender teus guaches
Tua sobrinha de joaninha
As cores da tua maquiagem
Tuas viagens
Kant viajou muito pela sua pura
Razão
E nunca se afastou de sua cidade
Jesus nunca fez grandes viagens
Mas estava em todos os lugares
E é o dono deste mundo
E criou o universo
E é dono do meu coração
Orienta-me na sua palavra
Nos domínios das mãos
E oração

E às vezes você me pergunta
Coisas que eu não sei responder
Um verbo intransitivo
Um vocábulo em catalão
Um acorde de piano
O final daquela peça
A variante aberta da Ruy Lopes
A complicação das variantes
Os versos de Cervantes
Aquela receita oriental
Com zen incenso mantras
e plantas
Do Nepal

Eu tinha tudo para ser um menino
Normal
Mas aquela tarde cinza e gritos
De andorinhas
Mios de gatos
Ela me emprestou o lobo da estepe
Alguém a náusea de Sartre
O estrangeiro de Camus
A transformação naquela louca metempsicose
O processo interminável
E parecer injusto
Descrito num formidável pessimismo
Poético
O Zaratrusta o Zorba Demian
A traição de Capitu
Os lábios de mel
Que corria nas estrofes parágrafos
Esvoaçando as negras melenas
Misturando com as cores da asa
Da graúna

Fiquei cheio destas descrições ocidentais
Que me levaram com o meu fusca
E violão machucados
Arranhados de tanto blues
E fados
Por estradas intermináveis
Auroras eternamente pintadas
Pelos meus sentimentos
De lápis de cores
Meu olhar entra em profunda
Distorções
Contorções visuais
Meus ouvidos é uma tuba
Balbuciando
Um acorde rouco
Morto de sono
Puramente onírico
Chegando às aurículas
Em baixa velocidade da luz
Mas meu globo ocular explodiu
É um vulcão exalando
Larvas de cores por todos
Os lados

¿ Mucho loco no?


                      Luiz Alfredo - poeta









segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

POEMA CONCRETO






                    L A T A
                  
                    L I X O

                    L U X O

                    V I R A T A L

                    V I R A L A T A

                     L A T A V I R A D A

                     L A T E

                     L I X O

                     V I R A D O


                                               


                        Luiz Alfredo – poeta.