Seguidores

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Minha Primeira Namorada




A moça do leite de moça
Foi minha primeira namorada
Seus lábios eram mais doces
Que os da Iracema
Nossos encontros eram na porta
Da geladeira
Nas madrugadas sonolentas
Depois que o cuco ia dormir

Nossa separação foi litigiosa
Uma diabete tipo 2
Separou nos dois
Hoje vivo com uma amante
Uma ama(rga) e chá(ta) repugnante
Pata de Vaca
E para suportar e adoçar
Este relacionamento
Alguns poemas do Bandeira
E do Drummond
E muitas gotas de adoçante



                  Luiz Alfredo - poeta

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Quebrando porquinho de barro





Reflexão de um porquinho de barro

És do barro e aos cacos voltarás
Levaram algum tempo dando-me de comer
Pequenas moedinhas
Foram enchendo-me de pequenos centavos
Algumas cédulas de valor
Por um buraquinho nas minhas costas
Quando estava obeso do vil metal
Num certo dia me despedaçaram
Com uma martelada certeira
E cruel no meio da minha coluna
Vertebral
Espatifaram minhas costas
E fiquei aos pedaços espalhados
Pelo chão
Juntaram os cobres com cuidado
Contaram o dinheiro
E meus cacos fora para o latão
Do lixo
Feito um bicho qualquer
Um mal-me-quer despetalado
Por uma desesperada paixão

Destino idêntico foi meu amigo leitão
Feito de carne e banha
Foram dando de comer milho
E ração
Num lugar apertado
Para não se movimentar
Muito amido sal dissolvido
Para ele engordar
Certo dia
Houve a matança do porco
Uma martelada na testa
Sangria no pescoço
Dependurado
Esquartejaram o bichinho
Separaram o toucinho do osso
O pernil do soro gorduroso
E os restos salgaram
Com sal grosso
O filé virou empanado
As vísceras foram defumadas
Até o rabo as orelhas
Os pés
Cozeram numa feijoada
Pra serem devorados com laranja farofa
E couve flambada

As tripinhas tira-gosto
Para comer com caipirinha
O contra filé foi assado
A pele virou crocante torresmo
Para se comer com chope e uca
A outra parte fizera à pururuca
Este é o destino reservado
Ao suíno
Tantos os nascidos do barro
Como a quimera do reino
Monera.

                        Luiz Alfredo - poeta


               



quinta-feira, 19 de junho de 2014

Colibri


Eu não sou tão verso
Assim
Eu vou mais olhar passarim
Feito curió quero-quero
Bem-te-vi
Japiim

Eu sou mais um colibri
Bebendo o néctar das flores
Com o olhar
Que meu grafite não sabe
Descrever
E meu coração somente sabe
Bater
Comovido lagrimado

Pintando os lábios com o vermelho
Do hibisco
Fazendo risco nas pálpebras
Com açucenas
Sou um beija-flor alucinado
Cognome do meu homo sapiens
Ocidental


                         Luiz Alfredo - poeta




segunda-feira, 16 de junho de 2014

Retorno do Tordo


Eu nunca mais tinha visto
Este passarim
Mudou suas penugens
Acho que não
Aqueles riscos pretinhos
Cor de ébano
alguns bemóis nas teclas pretas
do piano
Que parecem riscados com carvão
Minha pergunta filosófica
Quem os pintou
Conhece a arte dos pincéis
Artesão dos grafites
Quem o ensinou a cantar

A debulhar estas notas musicais
no teu bico de aço
Quem escreveu sua partitura
Escrita a mão no coração do sol
a pauta do céu azul
porque  quanto cantas parece
que lê sua a partitura
na nervura do ceú
Ensinou-lhe o grave o contralto
Eu sei quem desenhou o bandolim
Mais quem desenhou este passarim
E os ensinou a cantar?

Ele tinha desaparecido
Pensei que ele podia até estar
Extinto
Perdido numa era Cenozoica 
Qualquer
Ou preso numa arapuca
Gaiola ou numa cumbuca
O lindo céu azul de Porto Velho
É tua gaiola sem grades
Sem bordas
Vão além do oriente
Meu rouxinol
Martim-pescador
Eu te chamo assim - tu conheces
A minha dor
Meu beija-flor
Eu te chamo assim
Por que pensava num rouxinol
Quando tu apareceste

Aquele canto me deixou vendo
Arco-íris
Até no orvalho da flor
E nas minhas lágrimas emocionadas
Que deslizavam no meu palor


                          Luiz Alfredo - poeta

                




sexta-feira, 13 de junho de 2014

El Toro - Malagueña





Fibras de um coração atormentado
Andaluz
Perdidos nas penumbras
Sombras de pálpebras pensativas
Narcotizadas de poesias
Enamoradas

Cordas de um violão violento
Sedento de amor
Declamando seus versos
Aos espantalhos
Aos moinhos
Aos cata-ventos
Ao girassol enluarado
A musa dos relentos desta vida
Esbravejada

E ela nem me liga
Sou apenas um pobre poeta
Perdido nas madrugadas
Tragadas em antigas cantigas
Sedento de amor
Sorvendo o verde absinto
E sinto no calor dos arpejos
O calor dos teus beijos sobejados
Não beijados
Os versos dos antigos poetas
Do Tejo

E nos meus desejos
Por te amar
Declamar este sentimento
Este tormento rubro
Rasgo este flamenco
Nestes filamentos violados
Como um bardo embriagado
Por um fado
Violeiro alucinado
Nestes locos acordes
Como um touro herido
De sangre
Uma poesia em profusa hemorragia
Mi rapariga muy guapa
Bela como a lua despetalada no céu
Como uma rosa rocio orvalhada...
           

                             Luiz Alfredo - poeta


AVES DO BRASIL EM HAIKAI: Hino Avenacional

AVES DO BRASIL EM HAIKAI: Hino Avenacional: Caros amigos, O poeta Luiz Alfredo, com muita criatividade e talento, homenageia a Avifauna brasileira através da...

terça-feira, 10 de junho de 2014

Ser Poeta é não escrever versos

Sou poeta
Ainda não escrevi nenhum poema
Nem o epitáfio da minha sepultura
Porque não aprendi extrair o látex
Das metáforas
Nem unir as rimas num galope à beira
Do mar

Mas tomei a loucura esverdeada
Do absinto
Naquela taberna onde habitam
Os poetas malditos
Marginais
Underground
Entre as penumbras vaporosas

Que imprimem seus versos
Num mimeografo alcoolizado
Embriagado pelos bardos ultra-românticos
Enluarado
Apaixonado pela donzela pálida esquálida
De olhar sombreado de paixão

Tentei riscar alguns versos
Arriscar alguns acordes no violão
Que era um poeta
Pois conversava com a mariposa
Que pousava nas chamas da lamparina
Decifrava a gramática do camaleão
Que morava entre os livros
E morria de paixão pela musa
Que não existia

Mas tive que me conformar
E aprender
Que ser poeta é não escrever
Nenhum poema
E dialogar com estrelas
E abraçar o lápis inconformado
Por nunca ter poetado
Num pergaminho qualquer...



               Luiz Alfredo - poeta

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Terceira Pessoa do Verbo Amar


Naquele dia quando te encontrei
Esqueci o nome do poeta
Do verso que te declamei
Estava confuso quando disse
Que te amava
Nem teu nome sabia
Nem o que era o amor

Quando te dei a caixa de chocolate
De grãos plantados por pobres trabalhadores
Colhidos pelas esquálidas mãos
De crianças exploradas
Nem tinha lido o Capital

Veja que cilada
Tudo por causa dos teus belos
Olhos
Eu penhorei o mar
E as estrelas
Ainda bem que nesta noite
Não apareceu o luar
Nem coloquei os sonetos do Neruda
Nessa jogada



                            Luiz Alfredo - poeta

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Dialética do Tempo


Pouco me importa as rugas
Que o tempo vem desenhando
No meu rosto
Talhando no meu corpo
Esculpindo no meu ser

As dores que ele vem infiltrando
Nas minhas articulações
As sombras que vem confundido
E apagando meu olhar
Tirando as luzes das estrelas
E do luar

A canção dos pássaros e das cigarras
Dos meus ouvidos
Arrancando o amor do meu coração
Perturbando sua pulsação
E me aproximando da morte

Minha alma respira calmamente
O conceito de eternidade
E liberdade
E meu menino continua procurando
Seu velocípede
Que deixei estacionando no bosque
De flamboyant
Sob os cantos dos rouxinóis
E dos encantados sabiás


                         Luiz Alfredo - poeta






...

O luar ficou perplexo
Quando me beijas-te com teus lábios
De mel e caramelo
Quando abristes o interruptor
Do teu olhar
E me olhaste dentro dos meus olhos
Amorosamente
Com as pupilas faiscando
Vaga-lumes

As estrelas no céu silenciaram
Seus lumes
Os grilos ficaram atônicos
Lacônicos naquela noite enluarada
O mar escreveu um poema
Nas areias
Com suas brancas escumas

Um beija-flor que dormia
Agarrado nas pétalas da sua amada
Flor
Abriu os olhos meio sonolentos
E murmurou

Um oscula assim acordo eu
O japim
O rouxinol
Deixa insones os girassóis
E toda a via-láctea
Atormenta as tormentas
E as gaivotas dos atóis

             Luiz Alfredo - poeta


domingo, 1 de junho de 2014






Jia

Nem era poesia

                Nem sabia

Que seria fotografia

    Ou um poema

                     Haicai


             Luiz Alfredo - poeta