Archaïscher Torso Apollos
RAINER MARIA
RILKE
poeta
Wir kannten nicht sein unerhörtes Haupt,
darin die Augenäpfel reiften. Aber
sein Torso glüht noch wie ein Kandelaber,
in dem sein Schauen, nur zurückgeschraubt,
sich hilt and glänzt. Sonst könnte nicht der Bug
der Brust dich blenden, and im leisen Drehen
der Lenden könnte nicht ein Lächeln gehen
zu jener Mitte, die die Zeugung trug.
Sonst stünde dieser Stein entstellt and kurz
unter der Schultern durchsichtigem Sturz
and flimmerte nicht so wie Raubtierfelle;
und bräche nicht aus alien seinen Rändern
aus wie ein Stern: denn da ist keine Stelle,
die dich nicht sieht. Du musst dein Leben ändern.
–
Torso arcaico de
Apollo
Não sabemos como era a
cabeça, que falta,
De pupilas amadurecidas, porém
O torso arde ainda como um candelabro e tem,
Só que meio apagada, a luz do olhar, que salta
E brilha. Se não fosse
assim, a curva rara
Do peito não deslumbraria, nem achar
Caminho poderia um sorriso e baixar
Da anca suave ao centro onde o sexo se alteara.
Não fosse assim, seria
essa estátua uma mera
Pedra, um desfigurado mármore, e nem já
Resplandecera mais como pele de fera.
Seus limites não
transporiam desmedida
Como uma estrela; pois ali ponto não há
Que não te mire. Força é mudares de vida.
Tradução de Manuel
Bandeira
–
Torso arcaico de Apolo
Não conhecemos sua
cabeça legendária
na qual as pupilas maturavam. Porém
seu torso ainda arde como uma luminária,
em que seu olhar, mais tênue, se detém,
fica e brilha. Senão o
leve reflexo
da curva do seu peito não te cegaria,
nem o sorrir, no giro dos quadris, iria
correr para esse centro que portava o sexo.
Seria apenas uma pedra
deformada
sob os ombros de diáfana derrocada
e como pêlos de fera não brilharia
e nem teria toda sua
forma rompida
como uma estrela: lugar não haveria
que não ti veja. Precisas mudar tua vida.
Traduçâo de Karlos
Rischbieter
–
Torso arcaico de Apolo
Não sabemos como era a
cabeça inaudita,
onde as pupilas amadureciam. Glabro
no entanto o torso aclara como um candelabro,
onde apenas mais tênue, o seu olhar nos fita
e brilha. Senão como
poderia o plexo
do peito assim cegar-te, e iria, no impreciso
arquear de parte da cintura, um leve riso
correr para esse centro, onde existia o sexo?
Seria um simples bloco
mutilado e falto
e de seus ombros nunca o translucente salto
reluziria assim como um lombo de fera
nem romperia as
órbitas qual explodida
estrela: pois ali ponto nenhum se espera
que não te veja. Tens que mudar tua vida.
Tradução de Ivo
Barroso
Arrancaram
tua cabeça
Mais o teu
olhar nos olha profundamente
E tuas
pupilas ainda se acendem nas noites
De luar
E teus
lábios recitam os versos
Que ainda
palpitam na musculatura
Dos teus
braços
E assobiam
quando cala a cotovia
Para não
deixar o dia sem canção
Decerto
teus cabelos dançam ao vento
Roçando as
vértebras dos trigais
Tuas
pálpebras ainda se contraem
Diante do
rugido do mar
E tuas
retinas ainda desenham
Com a
resina das tuas lágrimas
As mãos que
te modelaram
E
escreveram na pedra
Um torso
machucado
Que perdeu
a cabeça
Mas que
mantém o lindo olhar
E o
pensamento racional
Que nos faz
pensar
Que nos faz
cortar com um bisturi
Abstrato
Teu corpo
apolíneo
E retirar
das tuas entranhas
As mais
estranhas conjecturas
Versos
profundos
Que sangram
E não tem
suturas.
Luiz Alfredo - poeta