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terça-feira, 27 de agosto de 2013

Meu Lado Cecília






Eu nem sequer era poeta
E nem sabia conjugar
O verbo amar

Minha vida era comer framboesas
E crepúsculos avermelhados
E esperar o luar

Eu nem tinha conhecido
Alice
Como te disse
Minha vida era correr
Nos matos
E mergulhar nos igarapés



              Luiz Alfredo - poeta

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Velho Tempo meu Amor



O tempo me leva para frente
Não respeitando minhas ancoras
Nem minhas equações mal resolvidas

Minhas lembranças vão ficando para trás
E vão sobrevivendo nas minhas recordações
E saudades

Deixa eu te levar pela mão
Para te mostrar a ponte de arrebol
E as gaivotas gritando
E comendo mergulhos azuis

É o que eu posso fazer
Com este meu amor de curta duração
E fragmentos de infinitos

A existência pode leva teu corpo
E tua alma
Ela é suficientemente grande
Para isto

Para te mostrar mundos inconcebíveis



                   Luiz Alfredo - poeta


    



quinta-feira, 15 de agosto de 2013

DEUS


         DEUS

             
                               A Deus    


É pela chuva
Pelo doce da trufa
Pelo vinho da uva
Que ele revelou sua face
No redemoinho
Da minha vida

Eu tinha muitas máscaras
Rosto maquiado
Tantos disfarces
Agora eu estou desnudo
Completamente mudo

Mas conheço a palavra
Em que suas letras
É uma amolada navalha
Que rasga bem no fundo
Da alma
Uma promessa que nunca
Falha

Revela nervos
Desvela coração
Aproxima-se de nós
Pela fome santa
Pela oração
Uma oferta de compaixão

Sua palavra é um poema
Feito de tâmara
E deserto
Um rio que não seca nunca
Uma árvore em que as folhas
Nunca caem no chão




Uma canção tão doce
Como o mel
Numa flauta de bambu
Ao vento
Em acordes que nos leva
Aos céus

Um átrio de ladrilhos
De brilhante
Um brilho mais puro
Que um diamante
A eternidade em carne
Viva
E radiante...


                     Luiz Alfredo - poeta


quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Pássaro Azul


Pássaro que sustenta o céu azul
Nas suas asas
Que risca os hemisférios
Com seu bico pontiagudo agudo
Pontudo
Amolado nas tempestades
E nas frestas do olhar
Da eternidade

Que faz seu ninho
Com fragmentos dos meteoros
E as estações
Com as canções que ele deixar
Cair
Atravessando o oceano
De ondas bravias

Mas deixa as rotas
Para que as andorinhas façam
Seu verão
A cotovia sua canção de amanhecer
E os corvos comam seus milhos
Antes dos espantalhos abrirem
Seus olhos
E os latifundiários fazerem
Suas colheitas

Este pássaro que semeia as nuvens
Brancas
Que foram roubadas pelos coronéis
Para molhar os cactos do sertão
E encher os rios secos
Mortos de sede
Ele é o acorde da viola sertaneja
As rimas dos versos de cordel
O baixo canoro de um acordeão
Puxando o fole de um baião...



                        Luiz Alfredo - poeta



quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Eu não Matei o Espantalho



                                            Rezei pelos espantalhos de braços abertos
                                             ...
                                             ...
                                                               Francisco Carvalho – poeta




O espantalho
Perdeu o sentido da vida
Os corvos abandonaram
Seu campo
Não comem mais as espigas
De trigos
Nem de milhos
Levadas pelo sol
No tempo
Esquecidas pela chuva
Pelas tempestades

Os moinhos estão vazios
Sem levedos
Sem coração
Fermentados e azedos
Os cata-ventos perderam a voz
E as caricias dos ventos
Sem foz sussurra o rio
Murmura o espantalho a sós
Na campina atroz

Com o retiro dos pássaros
Em arribação
E as cascas dos grãos sem asas
Despedaçadas
Voando pelos campos abandonadas
Mortas de sede
E orvalhos

Ainda pode se escutar
As reminiscências dos seus gritos
Esfomeados
Ele ainda levanta seu olhar
No infinito 
Estende sua mão esquálida
Tremulando
Como os ossos quebrados
Dos grãos dilacerados
Alimentar seus bicos
E ninhos esfomeados

Mas eles riscaram com seus gritos
Suas penas negras eriçadas
Outro roteiro no céu azul
E voaram para o sul
O espantalho está entristecido
Pelo campo árido dividido queimado
Pela própria foice alienada
Que o cultivou
Os latifundiários incendiários da terra
Dos cactos orquídeas florestas
E espantalhos
O mataram

Agora
Os pássaros vêm para comer
Sua ausência em bandos
Devorar seus olhos
Sem córneas
Seus ossos de cinzas
Sua alma incinerada
Seu corpo cremado
Enterrar suas garras
Na sua transcendência

Mas o campo mutilado
Guardara na sua árida lembrança
O espantalho de braços abertos
Que sempre olhara com seus olhos
Vazios
Os corvos devorarem as espigas
Aflorando
E eu sempre rezarei pela sua alma
Com as mãos para os céus
O verso do poeta de Russas
Não fui eu
Que matei o Espantalho.


            


                      Luiz Alfredo - poeta

Símbolos Nacionais



A bandeira do Brazil
É feita de mulata/ café
E bacuri
Esqueceram a lua prateada/
E o sabiá
As cores realmente
Deveriam ser uma aquarela/
A bola já está no centro
A ordem deveria ser tirada
Pois ninguém respeita a faixa
De pedestre
Nem a fila

Deveriam tirar o amarelo
Pois o ouro foi roubado
O verde ainda está sendo devastado
O branco deve ficar
Representa o nosso susto
A cada momento/
Os diamantes já não estavam
A derrama continua
E os derrames nos corações
As corrupções nas licitações
E os pobres continuam sendo sufocados
Enforcados

Os símbolos estão certos
O fumo e o café
A cocaína não é nossa mesmo
É boliviana
Nosso craque só o Pelé

Quanto ao hino nacional
Deveriam tirar as margens do Ipiranga
Pois este pequeno córrego
É um fétido esgoto
E em mais garrida trocar
Por uma bala perdida

Quanto ao hino da bandeira
Deveriam tirar augusto da paz
Pois em cada esquina
Tem um 38 na cabeça
E em nosso peito juvenil
Por em nosso peito uma bala
De fuzil

Podendo ficar o verso
Nem teme quem te adora/
A própria morte.


                Luiz Alfredo - poeta




domingo, 4 de agosto de 2013

Árvores Apagadas







Vasta floresta aquática
Desfalecida
Flutuando na morte apodrecida
Belas árvores afogadas
Sem vida

Ainda que o crepúsculo
Com sua retina alaranjada
Bruxuleante
Passeie nas suas alamedas
Sombrias
Todas as tardes cálidas
Molhando de luz suas faces
Pálidas
Sem clorofila
Sem flores floridas
Molhando suas sombras
Sem almas

Cemitério de árvores
Mortas
Extensas ruínas

Calma e silenciosa
Chega à noite
Apagando esta floresta
Adormecida
Deixando o que já morreu
Em profunda
E silente escuridão
Apenas as estrelas cintilam
Na pele trêmula da água

Escuridão que por ironia
Ilumina de neon
As grandes avenidas

Acendendo os intestinos
Das lâmpadas
Desta era desmedida
Girando a roldana dentada
Do medidor
Cada volt um valor
Que nunca pagará a morte
Dos rios
Nem das árvores
E suas orquídeas mortas
E o bico silente do sabiá
E as cores pasteladas
Do poente.


               Luiz Alfredo – poeta










sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Viaduto do Cocó



      Viaduto do Cocó



Aquele viaduto parece que é dependurado
No céu
Contorcido no ângulo do papel
Mas quem segura não é a viga
De cimento armado
Nem o concreto calculado
Na equação que o liga


São as almas das árvores mortas
São as lágrimas do rio sem pálpebras
As sombras que ficaram órfãs
Os pássaros que migraram
Sem destino
Os olhos assombrados dos peixes


              Luiz Alfredo - poeta