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terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Eric Clapton & Phil Collins - Layla (Live Aid 1985)



Sob os filamentos das estrelas
E do luar
Vagando entre mariposas e vaga-lumes
Nas algibeiras do meu blusão rasgado
Leva a lira dos meus vinte anos
Colheres flambadas de absinto
Conhaques requentados
Inalando vapores da flor proibida
Na solidão da estação

Sob a constelação e meu destino
Partiu o trem
Foi embora meu batelão
Também sonhei com minha Julieta
No dia que amanhecia
O canto da cotovia
Seu olhar que ardia por trás da coluna
Fria
Sonhei em ter minha Layla
Minha Yoko
Meus versos a chuva molhou
O tempo levou meus sonhos
Os solos daquela guitarra que solou
No meu coração
Calou
E tive que caminhar sozinho

Hoje meus versos anástrofes neo-concretos
Pichados nos muros desta velha pós-modernidade
Nesta cidade de lixos derramados
E o amor – ah! O amor
Ficou na revolução dos sonhos
Quando a flor enfrentou a baioneta
E pensávamos que ele mudaria meu coração
E o mundo




terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Brinquedos sempre vivos


A baladeira deixou as lembranças
Dos pássaros mortos
O pião deixou o giro na palma
Da minha mão
As bolinhas de gude o estalidos
Dos vidros
Os papagaios as cicatrizes do cerol
O sol ardendo nos olhos
Eles quedando na imensidão
O paralisa
Boneco duro
Rouba bandeira
Pira
Pelada
Esconde esconde
Brincadeira que marcaram
E machucaram  minha vida
Como despetalar a margarida
Para ver se ela me quer ou não
Me quer
E o beijo que ela nunca me deu
O primeiro acorde de violão
O primeiro verso de paixão
A luta para fazer o primeiro poema
São lembranças cicatrizadas
No meu coração
Que ainda sangram

E que sonham no meu sono.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Erasmo Carlos - Clipe de "Panorama Ecológico" - 1990



Rio Claro ficou escuro
As águas doces cristalinas ficaram turvas
E salinas
Peixinhos dourados estão pálidos
Olhos esbugalhados
Inchados
As guelras estufadas buscam bolhas
De ar
No fio de lama
Balbuciam como quem clama
Como quem chama
Alguns jazem hirtos
O olhar foram visgados pelo anzol
Sem coração
Pela isca da ambição
Que deixaram as águas turvas
Os céus sem arco-íris sem chuvas
Ressecadas escamas escamadas
Pelos ventos
Assadas pelo sol
Dissecadas pelo tempo
Que deixaram os rios mortos
De sede
Com suas gargantas ressecadas
Sem nenhuma margem de água

E os peixes defumados pelo chão

domingo, 21 de dezembro de 2014

Barquinho de Papel




Sentado naquela calçada ocidental
Num pedaço de um vértice do paralelepípedo
Quebrado
Resto da chuva escorre nos esgotos
Ocidentais
Latas de lixos concretos derramados
Muros pichados de grafites enigmáticos

Vou pensando no problema metafísico
Do tempo
E vou construindo uma frota de barquinhos
De papéis
E os solto ao léu
Sob um céu nublado
Trovuoso

Nas águas que escorrem no asfalto
Negro
Na esperança que encontre algum
Continente perdido
Sei que poucos chegarão
Alguns morreram encalhados
Outros se afogarão nesta velha
Pós-modernidade



quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Icaro


Era um pássaro que não gostava
De voar
No infinito azul do céu
Ficava absorto com o telúrico
Vulcões em lavas
Onda batendo nos rochedos
Com os verdes arvoredos
Amava pisar a terra com seus bípedes
Pés e asas fechadas
Foi se tornando um réptil
E com suas asas começou aprender
A agarrar
Seus olhos começaram a ver o mundo
Com várias pupilas
E aprendeu novamente a nadar
Com as eras aprendeu a ser mamífero
E suas asas agora eram mãos
Que polia a pedra e colhiam frutas
Aprendeu com os olhos bifocais
A riscar as paredes das cavernas
Comer cogumelos alucinógenos
E acender fogueiras
E conversar com as estrelas
Contemplar o arco-íris
A decifrar as marés
E as fases do luar
A tocar flauta
Nesse tempo não percebeu muito bem
Mas tinha um cérebro que pensava
E mãos que construíam e modificavam
A natureza
Aprendeu a plantar e se proteger do tempo
A desviar os rios
A pescar com zagaias e anzóis
A atirar flechar com arcos precisos
Um dia começou a ter desejo de voar
E a construir asas para ganhar os céus
Voltou o instinto de ser pássaro
E ressuscitar o extinto Pterodátilo
Que estava fossilizado dentro de si
O pássaro que era alucinado por esta Terra
Azul
E recolheu suas asas para caminhar
E não voar pelos céus...
Voltou o desejo de abrir as asas
E voar
De ser pássaro novamente


sábado, 6 de dezembro de 2014

Noctivago Vago


Eu sou à noite
Completamente noite
Com seu luar e estrelas arregaladas
No céu

Sou a madrugada insone
Com suas drágeas brancas
Seus versos que perambulam
A revestrés
Rodopiando nos carretéis dos poetas
E menestréis
No convés dos barquinhos de papeis
Que navegam nos esgotos
Ocidentais

Eu sou a madrugada fria
Que a aurora ainda não tragou
Trago em mim todas as decadências
E as cadencias que o instrumento morto
De sono
Ainda não tocou
Eu sou a rosa semimorta num copo
De água
Mas meus espinhos ainda ferem
Mesmo com minhas pétalas morrendo
Apaixonadas
Mortas de mágoas

A lembrança de um amor quase acabado
O soneto mal acabado
Sem rima em cima da mesa
O cálice de conhaque tragado
Que ainda recende o hálito
E a brisa do coração abandonado

Sou à noite
Com seu silencio ensurdecedor
O poema revelando sua dor
A flor proibida plantada no quintal
Tecendo seu orvalho
Na tessitura do papel
Eu sou à noite num céu

De pedrinhas de brilhantes

Alguns Concretos







                                       v         o         o

                    o         v         o

                    o         o         v








                                      o         v          o

                    v         o          o

                    o         o          v   




    

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Rio de Estrelas Borbulhantes



O remo feria lentamente a pele
Do rio
Que corria levando o seu destino
E o meu
Era um imenso silencio naquela
Amplidão
Apenas o ruído do remo levando
As águas
Um pássaro que gorjeava sua canção
Nos galhos do crepúsculo
Que ia embora à boca da noite

As margens acendiam seus lampejos
Algumas lamparinas reluziam
Alguns vaga-lumes piscavam seus lumes
Em correntes alternadas
As estrelas iam aparecendo no céu
E nos espelho das águas do rio
Tremeluzentes
E o luar com seu âmago reluzente
Enchia de saudades eu
E minha canoa

Que ia rasgando a noite
E a imensidão daquela solidão
Meu caniço dormia na proa da canoa
Bebendo a doce neblina
A gélida garoa
Ali eu tinha deixado de ser pescador
De peixes
E passei a pescar no meu interior
Meus pensamentos
E a murmurar canções