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sexta-feira, 19 de julho de 2013

Taverna Poemática






Nasci entre dois grandes rios:
Negro e Solimões
Criei-me entre dois belos rios:
Mamoré e Madeira
Viajei entre tantos outros:
Marmelo maici miriti
Machado candeias jaci

Traguei os olhos mágicos
Do guaraná
Tomei o sangue encantado do açaí
Patuá
E abacaba
Os nervos dos cipós mariri
Apuí
Comia raios de luar com buriti
Sangue de boi
Bem-te-vi

A tarde cheia de crepúsculo
Com arrulhos da juriti
A carne das palmeiras
E do piquiá
Com bico ensopado de floresta
Do rouxinol
Uirapuru
E sabiá

Vivia perdido nas matas
Ainda não tinha conhecido
A poesia do Drummond
Nem do Gullar
Minha canoa era ainda
Uma víscera no meu ser
Não havia inalado o vapor
Da Maria - Fumaça
Nem tomado minha primeira
Coca & Cola
Nem voado nas asas da Panair
Nem comprado minha vitrola
Que rodava os meninos
Da rainha Vitória

Ainda era puro instinto
Caninos que mordia a lua cheia
Comia pupunhas coloridas
E tacacá
Viajava nas nervuras da folha
Da rainha
E bebia aluá

Meus acordes ainda estavam
Nos bicos dos pássaros
Nos cantos de Aióca
E minha poesia
Um soneto que ainda não havia sido
Declamado naquela taverna
Mui louca...




                                    Luiz Alfredo - poeta



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