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quinta-feira, 9 de abril de 2015

Alceu Valença e Orquestra Ouro Preto - Cavalo de Pau






Meus pais levaram-me ao psiquiatra
Depois que me viram conversando
Com as papoulas encarnadas
Com o espantalho do milharal
Ficaram preocupados
Quando souberam que namorava
Uma nereida do igarapé azul
E da minha amizade com o camaleão
Dos barrancos

O psiquiatra apenas me perguntou
O que falo com eles
E se esta nereida existia
Nunca revelarei os segredos do espantalho
Muito menos as parábolas dos milhos
E dos corvos

Se ela não existisse meu coração
Não estaria doudamente apaixonado
Eu não seria um bardo
Escrevendo versos enamorados
Ao luar
Nas chamas da lamparina
Nas asas das mariposas atordoadas
Nas cordas do violão

Ele ainda perguntou
O que pode uma papoula me dizer
Ele não sabe que as joaninhas
E os besouros têm suas gramáticas
E suas línguas mortas
E as lindas papoulas têm as suas revelações
Alucinações
Mas como dizer

O laudo foi uma esquizofrenia
Acentuada
Consultou anfetaminas e umas vitaminas
E ele nem soube que passeava pela vida
No meu cavalo-de-pau
E que navegava nos lagos e rios
Num cavalo-marinho
E que andava pelas galáxias
Num unicórnio...  



Um comentário:

  1. Soneto-acróstico
    Esquizofrenia

    Pois falar com papoulas encarnadas
    Ou com o espantalho palavras trocar
    Entre outras manias ou caminhadas
    Talvez seja esse seu alcance estelar.

    Alucinações? Nem pensar meu caro!
    É uma maneira de sentir-se apenas
    Uma nereida do igarapé, um ser raro
    Muito menos as parábolas pequenas.

    Inclusive, papoulas roxas a dizer têm
    Nas asas das mariposas atordoadas
    Suas línguas mortas comunicam bem.

    A lua com a luz disposta em camadas
    Nem percebe as anfetaminas também
    Ou tu num unicórnio manco passeavas.

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