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terça-feira, 31 de março de 2015

A Concha da Minha Mão

A concha da minha mão
Traz os bramidos do mar
Antigos sussurros das nereidas
As notas da flauta de Anfion
Os gemidos dos argonautas
Da nau de Ulisses
Os feitiços e a beleza de Circe
Quando a coloco nas bordas
Do meu ouvido

A concha da palma da minha mão
Guarda os sonhos
E minha solidão
As linhas do meu destino
Os labirintos que vou deixando
Os fios
Para não me perder
Concha que traz o eco dos céus
Que bebo água da fonte
E da cacimba
Que murmura nos ouvidos antigos
Poemas
Que colhe os enlevos dos belos seios
Dela
Versos desencontrados
Pedaços de antigas cantigas
Que conta os segredos incontidos
Fragmentos declamados

Nela gesta a pérola
Que a pedra no meio do caminho
Engravidou
Guarda a memória das chuvas
Que engravidou os pastos
De cogumelos alucinados
Minhas lágrimas para mover
Os moinhos
Murmurar nos ouvidos dos cata-ventos
Sonetos de antigos tempos
Molhar as rosas do caminho
Os olhos sem nervura dos espantalhos
Que tomam conta das lavouras soterradas
O hálito dos girassóis
As pétalas dos crisântemos
Os orvalhos das orquídeas selvagens
Os arames farpados deste oprimido
Sertão
É a medida dos versos do meu coração
Pronunciada em profusa solidão




Um comentário:

  1. Acróstico

    Aconchego dos sons que compõe a vida
    Conchavo entre cá e por trás do espelho
    Ouvido que materializa a bem conhecida
    Natural vontade de meter nosso bedelho
    Conhecer aquilo, talvez além da medida
    Habitualmente contra qualquer conselho
    Apenas por certa curiosidade incontida.

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