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quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Um etílico blues amanhecido






Belo tempo em que andava
Pela noite
Bebia raios de luar
Gotas de orvalhos
E sonhava que um dia
Ou uma noite qualquer
Teria o amor dela
Eu vi na última pétala
Do mal-me-quer

Triste flor ficou despedaçada
Por causa desta minha paixão
Louca
Mas tomava um sorvete de casquinha
Feito na lata
Ia pescar mandi
Para não pensar em ti

Mas ela era bela demais
Era uma atriz kabuqui
Era a máscara que interpretava
O batom que pronunciava
O poema
Os olhos eram o lagos nos olhos
No peixe
O feixe de luar a tremular
Nas ondas
Balouçando no barquinho
E você de sombrinha com joaninhas
Carapaças negras
E vermelhas as bolinhas
Senti-me no Sena levando
A encarnação do amor
O mergulho na profunda paixão

Nesse tempo era o tempo
Das paixões
Nesse tempo eu não conhecia
Nem meu lobo
Nem meu camaleão
Nem tinha lido alguns poemas
De Drummond
Nem lido aquele texto
De Lacan

Mesmo num intrépido inglês
Lera alguns versos do Byron
De tanto amor desvairado
Fiz o cálice de conhaque chorar
A cigarrilha enlouquecer
Com meus profundos tragos
E nos versos ultra-românticos
Os paranóicos estragos
Um violão de cordas machucadas
Um soneto Irregular
A lamparina bebeu toda a gasolina
Jaz no chão as mariposas embriagas
Pela chamas
Lambuzaram-se com as chamas azuis

A vitrola ainda arranha um blues
E o sol vem iluminando os rasgados
Da cortinas
Pedaços da minha dose de conhaque
Virá um prisma
Os olhos do meu camaleão não piscavam
Meu abajur foi dormir
Li um poema concreto
Em que as estrofes eram triângulos
Eqüiláteros
E aquele verso
Uma secante em que os ângulos
correspondem a minha falta de lágrimas







2 comentários:

  1. Louca lucidez

    Belo tempo em que ele bebia raios
    Luar que descia sem pedir licença
    Uns janeiros, fevereiros ou maios
    E amar a atriz Kabuqui era doença.

    Sentir-se navegando naquele Sena
    Encarando a musa, cheio de tesão
    Tanta persistência valeria à pena?
    Íntimo de Drummond, de sua paixão

    Louco entre ângulo reto e catetos
    Incomoda mais que usar sombrinha
    Compondo um etílico blues-soneto
    Onde mais importa é o que ele rinha.

    Sim, não há sanidade nessa lucidez
    Só o mais forte continua em frente
    Imaginemos os senões e porquês
    Minhocando no interior dessa mente.

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  2. Um poema verbo hemorragia
    in the river of tangerine
    um soneto pra matar
    compreendeu a história
    poema a La Gullar
    penso que aprendi com ele
    esta forma poética
    declamada em versos longos
    mui grato poeta

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