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sábado, 1 de novembro de 2014

Drummond em Mim


Houve um tempo que queria ser Carlos Drummond de Andrade
Como sê-lo
Um poeta de Cassiterita e versos de ouro refinado
O pior é saudade que tenho dele
E os poemas que tento imitá-lo
O indivíduo que quebrou seus óculos
E pichou sua estátua 
Não deveria ser preso porque lesou
O patrimônio público
Mas porque não conhece sua poesia
Crime hediondo


Confidência de um portovelhense

A Carlos Drummond de Andrade

Por algum tempo vivi em Porto Velho.
Não nasci em Porto Velho.
Talvez por isso tornei-me abúlico,
macambúzio e estranho: de estanho.
Quase todo meu ser de cassiterita.
Esse fascínio por estrelas cadentes, fogos-fátuos
pirilampos incandescentes.
Que fazem da minha vida uma rocha dura.
Marcada de cicatrizes e queimaduras ardentes.
Sem poesia e sentimentos.
E essa refração que na vida é pura amargura
desesperança e solidão
o sonho de apaixonar-se, que me atormenta a vida
vem de Porto Velho, de seus blues azuis, sem amantes e sem oceanos esverdeados.
E a sina dessa angústia existencial, que transformo em canções,
é calorosa lembrança de portovelhense.
De Porto Velho trouxe os sonetos de Vespasiano Ramos e
Marcelino Bolívar que te oferto.
Esse ouro do Madeira e diamantes sujos da foz do Jaci - Paraná.
Esperança mil da terra anil brasilis.
Esse quadro do arraial de São João da Rita Queiroz.
Esta pele de gato maracajá no chão da sala de jantar.
Esta vaidade, esta cabeça pensativa.
Tive jóia, tive rebanhos, possui terras.
Hoje sou servidor público federal da união
E Porto Velho é uma fotografia
envelhecida de uma antiga Polaroid
ultrapassada no porão.
Mas que saudade!

Luiz Alfredo – poeta.




Minha Primeira Namorada

A moça do leite de moça
Foi minha primeira namorada
Seus lábios eram mais doces
Que os da Iracema
Nossos encontros eram na porta
Da geladeira
Nas madrugadas sonolentas
Depois que o cuco ia dormir
Nossa separação foi litigiosa
Uma diabete tipo 2
Separou nos dois
Hoje vivo com uma amante
Uma ama(rga) e chá(ta) repugnante
Pata de Vaca
E para suportar e adoçar
Este relacionamento
Alguns poemas do Bandeira
E do Drummond
E muitas gotas de adoçante

Luiz Alfredo – poeta


Um dia você me disse
Que me amava
Mas agora as noites
São outras
O copo de cuba libre
Com cubos de um luar
Romântico
Derreteram na penumbra
Do tempo
Tempo em que a vida
Era um verso do Drummond
E um beijo de olhos fechados
No escuro do cinema
Ou na penumbra da boate
E pouco importava se meu fusca
Era arranhado
E se meu jeans era rasgado
O amor ainda era um conceito
Que se pensava com o coração
E eram dedilhados numa canção
Luiz Alfredo – poeta



E AGORA MARIA

A Carlos Drummond de Andrade

João que amava Maria
Que amava José
Que amava uma qualquer
João fez um poema pra Maria
Que fez um doce pro José
Que deu o doce pra qualquer 
José não gostava de doce
Não gostava de Maria
E era amigo de João
Que fez uma canção pra Maria
Que fez um peixe pro José
Que tinha ido pescar no mar
E sonhar por uma qualquer 
A biquara ficou na barraca
E foi degustada com garapa de cana
Em cima da cama de taquara
Pela linda mameluca qualquer
Que ficou a noite olhando estrelas
E tomando banho de luar
Escutando as ondas do mar
Esperando pela jangada de José
Maria fez um doce de mamão
Com cravo anis e coração
Fogão de barro e colher de pau
Panela de bronze e brasa de carvão
Nem pensou no apaixonado João
Apenas na sua louca paixão
José nem soube da biquara
Nem da sobremesa de mamão
Quando chegou tão cansado
Com tantos peixes pescados
Descalço cansado mas com tesão
Pescou sua qualquer nua
Jogando-a no colchão
Deixando o caniço de pescar
Os pescados o arpão e o facão
Espalhados pelo chão
Qualquer ainda quis falar do doce
Mas José a trouxe por entre as coxas
Parecia uma foice afiada amolada
Devastando a plantação
João pensava na Maria 
Que sonhava com José
Que dormia entre os seios
Da linda ameríndia qualquer
Que era mal falada na aldeia
Maldita pelos irmãos
Pelo padre da igreja
Pelo diretor da escola
Por João amigo de José
Que nem ligava pra Maria
Era louco pela qualquer
Que era boa de cama
Preparava uma moqueca de arraia
Tecia um cigarro de palha
Assava um peixe na brasa com escama
Pisava uma paçoca no pilão
E amava José de todo coração
João falava de qualquer
José nem escutava
Maria amava José
José nem ligava
Só pensava no mar azul
E amar sua qualquer
João ficou sem Maria
Maria sem José 
E José terminou seus dias
Nos braços de uma qualquer.


* Poema publicado na Coletânea de Poesias: Semana do Servidor da UFC 27 a 31 de outubro de 2009. Universidade Federal do Ceará. Coletânea de Poesias. Elizio Ayres Cartaxo{organizador}. Fortaleza: Cartaxo Fotolito Laser, 2009. pp. 61-62.




Um comentário:

  1. Soneto-acróstico, CDA

    Calem-se os poetas, aedos e vates
    Aqui se fazem presentes Alterosas
    Rimas, ideias, versos, bom combate
    Lá de Itabirito em verso e até prosa.

    Ontem havia uma pedra no caminho
    Somente um simples e vulgar calhau
    Drummond não faz verso comezinho
    Reluz em ouro seu versejar especial.

    Um dia chamou-lhe o destino porém
    Morreu e foi para onde os poetas vão
    Mais não disse ao mundo, a ninguém.

    Outra vida seria sem sua contribuição
    Nos anais do lirismo agora está sem
    Drummond, vate que vale um milhão.

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