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domingo, 23 de novembro de 2014

Cantos Amolados


Pássaros rasgam as cinco horas
Da manhã
Com seus cantos amolados
Mais um dia nesta banda do ocidente

O sol eriça as penas do pássaro
Azul
E a pena do poeta
Que ainda com as sobrancelhas
Machucadas
Risca o primeiro verso

Tirando os olhos da primeira
Página do jornal
Tomando a primeira pílula
Colocando um pouco de cereal
Na tigela para o camaleão

Tomo um copo de leite
Ordenado da embalagem gelada
Das tetas do refrigerador
E mordo uma torrada com mel
Feito por abelhas mecânicas
E respiro o aroma fumegante
Da xícara de café

E toco nas teclas nervosas do computador
E deixo o poema inacabado na tela
E vou embora
Agora não são os pássaros que marcam
As horas
É o relógio fordista
E a velocidade do metrô




2 comentários:

  1. Soneto-acróstico

    Cantos as cinco horas amolados
    Assim cantarola um pássaro azul
    Na banda do ocidente deste lado
    Talvez um pouco mais para o sul.

    O sol, as penas do pássaro eriça
    Sobre as celhas do poeta também
    Apenas, talvez, para fazer justiça
    Mas será que aos poetas convém?

    O primeiro verso ele então risca
    Lá onde jamais a luz da lua bate
    Aqueles belos olhos da odalisca.

    Deixa combater o bom combate
    O que diante do perigo não pisca
    Se a velocidade do metrô retrate.

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  2. Bom dia, Luiz.
    Abelhas mecânicas, leite das tetas do refrigerador. Imagens fortes. Mas os pássaros serão sempre os pássaros, e sus asas serão sempre feitas das mesmas penas que nos levam em voos poéticos de sonhos.

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