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quinta-feira, 26 de junho de 2014

Quebrando porquinho de barro





Reflexão de um porquinho de barro

És do barro e aos cacos voltarás
Levaram algum tempo dando-me de comer
Pequenas moedinhas
Foram enchendo-me de pequenos centavos
Algumas cédulas de valor
Por um buraquinho nas minhas costas
Quando estava obeso do vil metal
Num certo dia me despedaçaram
Com uma martelada certeira
E cruel no meio da minha coluna
Vertebral
Espatifaram minhas costas
E fiquei aos pedaços espalhados
Pelo chão
Juntaram os cobres com cuidado
Contaram o dinheiro
E meus cacos fora para o latão
Do lixo
Feito um bicho qualquer
Um mal-me-quer despetalado
Por uma desesperada paixão

Destino idêntico foi meu amigo leitão
Feito de carne e banha
Foram dando de comer milho
E ração
Num lugar apertado
Para não se movimentar
Muito amido sal dissolvido
Para ele engordar
Certo dia
Houve a matança do porco
Uma martelada na testa
Sangria no pescoço
Dependurado
Esquartejaram o bichinho
Separaram o toucinho do osso
O pernil do soro gorduroso
E os restos salgaram
Com sal grosso
O filé virou empanado
As vísceras foram defumadas
Até o rabo as orelhas
Os pés
Cozeram numa feijoada
Pra serem devorados com laranja farofa
E couve flambada

As tripinhas tira-gosto
Para comer com caipirinha
O contra filé foi assado
A pele virou crocante torresmo
Para se comer com chope e uca
A outra parte fizera à pururuca
Este é o destino reservado
Ao suíno
Tantos os nascidos do barro
Como a quimera do reino
Monera.

                        Luiz Alfredo - poeta


               



Um comentário:

  1. Suíno

    A cultura nos impõe desde menino
    Guardar moedas e dinheiro miúdo
    Para um economizar bem genuíno
    Que nos tornará frugais sobretudo.

    Sem cometer qualquer desatino
    O cofrinho que se põe conteúdo
    Assemelha-se o formato porcino
    Um bacorinho rosado e pançudo.

    Mais tarde como manda o destino
    Um comensal faminto e bocudo
    Com aquele apetite quase leonino
    Come o leitão com osso e tudo.

    Pobrezinho desse saudável suíno
    É vítima do macaco não peludo.

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