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domingo, 20 de outubro de 2013

Torso de Apollo












Archaïscher Torso Apollos

                                   RAINER MARIA RILKE
                                                  poeta

Wir kannten nicht sein unerhörtes Haupt,
darin die Augenäpfel reiften. Aber
sein Torso glüht noch wie ein Kandelaber,
in dem sein Schauen, nur zurückgeschraubt,
sich hilt and glänzt. Sonst könnte nicht der Bug
der Brust dich blenden, and im leisen Drehen
der Lenden könnte nicht ein Lächeln gehen
zu jener Mitte, die die Zeugung trug.
Sonst stünde dieser Stein entstellt and kurz
unter der Schultern durchsichtigem Sturz
and flimmerte nicht so wie Raubtierfelle;
und bräche nicht aus alien seinen Rändern
aus wie ein Stern: denn da ist keine Stelle,
die dich nicht sieht.
Du musst dein Leben ändern.

Torso arcaico de Apollo


Não sabemos como era a cabeça, que falta,
De pupilas amadurecidas, porém
O torso arde ainda como um candelabro e tem,
Só que meio apagada, a luz do olhar, que salta
E brilha. Se não fosse assim, a curva rara
Do peito não deslumbraria, nem achar
Caminho poderia um sorriso e baixar
Da anca suave ao centro onde o sexo se alteara.
Não fosse assim, seria essa estátua uma mera
Pedra, um desfigurado mármore, e nem já
Resplandecera mais como pele de fera.
Seus limites não transporiam desmedida
Como uma estrela; pois ali ponto não há
Que não te mire. Força é mudares de vida.

Tradução de Manuel Bandeira


Torso arcaico de Apolo

Não conhecemos sua cabeça legendária
na qual as pupilas maturavam. Porém
seu torso ainda arde como uma luminária,
em que seu olhar, mais tênue, se detém,
fica e brilha. Senão o leve reflexo
da curva do seu peito não te cegaria,
nem o sorrir, no giro dos quadris, iria
correr para esse centro que portava o sexo.
Seria apenas uma pedra deformada
sob os ombros de diáfana derrocada
e como pêlos de fera não brilharia
e nem teria toda sua forma rompida
como uma estrela: lugar não haveria
que não ti veja. Precisas mudar tua vida.

Traduçâo de Karlos Rischbieter

Torso arcaico de Apolo


Não sabemos como era a cabeça inaudita,
onde as pupilas amadureciam. Glabro
no entanto o torso aclara como um candelabro,
onde apenas mais tênue, o seu olhar nos fita
e brilha. Senão como poderia o plexo
do peito assim cegar-te, e iria, no impreciso
arquear de parte da cintura, um leve riso
correr para esse centro, onde existia o sexo?
Seria um simples bloco mutilado e falto
e de seus ombros nunca o translucente salto
reluziria assim como um lombo de fera
nem romperia as órbitas qual explodida
estrela: pois ali ponto nenhum se espera
que não te veja. Tens que mudar tua vida.

Tradução de Ivo Barroso


Arrancaram tua cabeça
Mais o teu olhar nos olha profundamente
E tuas pupilas ainda se acendem nas noites
De luar
E teus lábios recitam os versos
Que ainda palpitam na musculatura
Dos teus braços
E assobiam quando cala a cotovia
Para não deixar o dia sem canção

Decerto teus cabelos dançam ao vento
Roçando as vértebras dos trigais
Tuas pálpebras ainda se contraem
Diante do rugido do mar

E tuas retinas ainda desenham
Com a resina das tuas lágrimas
As mãos que te modelaram
E escreveram na pedra
Um torso machucado
Que perdeu a cabeça
Mas que mantém o lindo olhar

E o pensamento racional
Que nos faz pensar
Que nos faz cortar com um bisturi
Abstrato
Teu corpo apolíneo
E retirar das tuas entranhas
As mais estranhas conjecturas
Versos profundos
Que sangram
E não tem suturas.


          Luiz Alfredo - poeta 

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