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quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Eu não Matei o Espantalho



                                            Rezei pelos espantalhos de braços abertos
                                             ...
                                             ...
                                                               Francisco Carvalho – poeta




O espantalho
Perdeu o sentido da vida
Os corvos abandonaram
Seu campo
Não comem mais as espigas
De trigos
Nem de milhos
Levadas pelo sol
No tempo
Esquecidas pela chuva
Pelas tempestades

Os moinhos estão vazios
Sem levedos
Sem coração
Fermentados e azedos
Os cata-ventos perderam a voz
E as caricias dos ventos
Sem foz sussurra o rio
Murmura o espantalho a sós
Na campina atroz

Com o retiro dos pássaros
Em arribação
E as cascas dos grãos sem asas
Despedaçadas
Voando pelos campos abandonadas
Mortas de sede
E orvalhos

Ainda pode se escutar
As reminiscências dos seus gritos
Esfomeados
Ele ainda levanta seu olhar
No infinito 
Estende sua mão esquálida
Tremulando
Como os ossos quebrados
Dos grãos dilacerados
Alimentar seus bicos
E ninhos esfomeados

Mas eles riscaram com seus gritos
Suas penas negras eriçadas
Outro roteiro no céu azul
E voaram para o sul
O espantalho está entristecido
Pelo campo árido dividido queimado
Pela própria foice alienada
Que o cultivou
Os latifundiários incendiários da terra
Dos cactos orquídeas florestas
E espantalhos
O mataram

Agora
Os pássaros vêm para comer
Sua ausência em bandos
Devorar seus olhos
Sem córneas
Seus ossos de cinzas
Sua alma incinerada
Seu corpo cremado
Enterrar suas garras
Na sua transcendência

Mas o campo mutilado
Guardara na sua árida lembrança
O espantalho de braços abertos
Que sempre olhara com seus olhos
Vazios
Os corvos devorarem as espigas
Aflorando
E eu sempre rezarei pela sua alma
Com as mãos para os céus
O verso do poeta de Russas
Não fui eu
Que matei o Espantalho.


            


                      Luiz Alfredo - poeta

Um comentário:


  1. Sem os grãos dourados
    Dos milhos
    Os corvos negros morreram
    De fome
    Nem mas sentaram no galho
    Contorcido
    Da árvore retorcida queimada
    E de tristeza e saudade morreu
    O espantalho

    Sem as caricias dos ventos
    Morreu o milharal
    As sementes abortaram
    Os sonhos
    O pilão dos cata-ventos
    Calaram os instrumentos
    Emudeceram os sentimentos
    A alma da borboleta faleceu
    No casulo da lagarta
    Que nem abriu os olhos
    Para contemplar os roçados
    Que não alimentaram as lâminas
    Das enxadas nem dos terçados

    Mas os rios secos alimentaram
    A ambição dos homens de gravatas
    E a chuva pálida respigou
    No cacto de espinho negro amolado
    O espantalho morreu de saudade
    Dos corvos grasnados esfomeados
    Exilados sem nação.

    Luiz Alfredo - poeta



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