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domingo, 11 de maio de 2014

Um dia que durou quase eternamente

Hoje fui levar
Um ramalhete de flores
Selvagens
Multicoloridas prismáticas
Aromáticas
Cortadas com meu estilete
Pelo caminho
Algumas colhidas lá perto
Do cemitério com muito carinho
Para minha mãe

Deixei uns versos de coração
Sob o epitáfio meio oxidado
Algumas letras já enferrujadas
Pelo tempo
A opacidade da fotografia
Jaz desgastada

Molhada pela chuva
Pelos orvalhos das madrugadas
Não apagou o seu lindo
Sorriso
Doce como uma trufa
Do paraíso sem maldade

Seu nítido olhar
Ainda parecia capturar
A vida os pássaros as estrelas
A cintilar
Crianças o mar a velha cidade
Que tanto amava
Parecia muito feliz

Fiz uma oração
Balbuciei a canção que ela
Gostava
E deixei cair umas lágrimas
Na sua sepultura

Ela não pode me responder
Com sua doce ternura
Nem com sua rouca voz
Na sua lousa candura
Mas um bem-te-vi
Cantou num oiti florido
Bem logo ali
Ainda bem que te vi
Bem te vi

Sem nenhuma epifania
Parti na noite que caía
Num luar âmbar decrescente
Reluzente incandescente bucólico
Que saia

Abúlico telúrico melancólico
Com uma saudade queimando
Minhas entranhas vísceras
Coração que ardia
Repletos de reminiscências
Deste dia.



                     Luiz Alfredo - poeta



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