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terça-feira, 1 de abril de 2014

Nos Tempo da Cotovia


Lembro do nosso desregrado amor
Quando comíamos pedaços de luar
Inalávamos polens de mariposas
Inflamadas pelo querosene da lamparina
Comíamos caramelos com gomos de tangerinas
E bebíamos orvalhos da madrugada
E enchíamos os olhos de estrelas
O cálice do teu umbigo de vinho
Das doidivanas insanas profanas
Vindimas

Deixávamos a vitrolas de fado
Enfadada
Os sonetos de amor de Camões
Exaustos
Os últimos versos as mínguas
Trôpegos na língua
Afônicos e perdidos nas rimas
Os acordes machucados
Roucos
Sangrando
Nas cordas de nylon
Do violão
Que nos cálidos desejos
Nos loucos arpejos
Balbuciava uma canção
Apaixonada

Desvairados desejos
Ardentes e sôfregos beijos
Perdíamos a respiração
Sujávamos de batom
E borrávamos a maquiagem
E manchávamos as tatuagens
E nos perdíamos no profundo horizonte
Do olhar
Herméticos supercílios
Traficados pelos cílios
Não conseguíamos mais pensar

Era um tempo em que incendiávamos
Os olhos dos dragões
Com lavas vermelhas
Confundíamos os roteiros
Dos pássaros
Desnudávamos as espigas de milhos
Acordávamos as pétalas
Do sol
E nem esperávamos o romper
Do dia
O cantar da cotovia
Para começar a viagem

              
                      Luiz Alfredo - poeta



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