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quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Tecelão de Estrelas


Uma ave faz um ninho
Tecendo com seu bico afiado
Amolado nas canções
Seu ninho de galhos retorcidos

Entrelaça cada um
Sem parafusos em pleno luso
Verão
O martelo e o prego
É uma arte conceito
Uma reflexão filosófica
Atravesso o viaduto
Mesmo com minha ortodoxa
Ocidentalidade
Ainda caço borboletas
O gás carbônico ainda toca
Nas minhas sobrancelhas assustadas
E nunca deixei de cantar siriá
nem de riscar o sol

Vou descobrindo onde os pássaros
Fazem seus ninhos
Com minha sombrinha vou brincando
De chuva
Um pardal fez seu ninho nas luzes
Do semáforo
A rolinha fez seu ninho no hibisco
De rubra rouca lokas papoilas doidivanas
Que levam o dia se embalouçando
Aos ventos
Comendo flocos da luz solar

Lembra mano
Quando conjugávamos o verbo amar
Nossa aldeia parecia linda
Mas eram encantadoras suas noites de luar
Suas fogueiras de São João
Elas me levaram ao evangelho de João
Uma cuia de tacacá
Uma de patuá
Um cálice de aluar
E as proibida flores que brotavam livres
Foram incriminadas
Eu vi a guerra do Vietnã na revista
rasgada


As estrelas nos diziam tudo
Eram as nossas guias
Nos rios
Igarapés
Igapós
Do outro lado da ponte
O poente encantador
Tinha o verão das andorinhas
Tempo das lendas
Tempo dos curumins procurarem
As cuiatãs
Seus seios de pele de avelãs
Dos botos namorarem as meninas
Tempos das jujubas coloridas
Bombons de hortelã
Tempo em que aquela bateria
Passava o tempo bumbando
Meu coração
Acedendo minhas pupilas


Em Cala ma não tinha automóveis
Nem muitas carroças
Mas lá eu vi a pá e a enxada
Dependurada
Descansando
E amolando sua laminas
Na luz do luar
Nem sequer belas carruagens
Mas tinha as ruas floridas
Aprendi a amar uma rua
Que depois foi as minhas lembranças
De morangos
Que nos leva as pontes
Onde do outro lado mora sua paixão
Embaixo o igarapé murmura
Sua canção
Por não ter moinhos
As águas nunca voltaram
Mas quem sabe alguma tempestade
A traga de volta

Do outro lado é que guardo
Meus anzóis meus poéticos
Caniços
Que pescaram muito mais luar
Que peixes
Minha lanterna minha lamparina
Onde agora dorme meu violão
Minha Royal onde nas suas fitas
Negras moram a memória dos meus
Poemas

Sempre tive minhas ruas de morangos
Meus campos de framboesas
Sempre Deus me deixou seguir o meu caminho
Por que ele sabe que eu nunca vou tirá-lo
Do meu pensamento
Aprendi viver com meu cotidiano
A geometria de Descarte
A geometria de Spinoza
A geometria de Hegel
A vida é uma sinfonia
Nós é que não a tocamos direito
Nem conhecemos a diáspora das borboletas
Nem agradecemos pelo doce mel
E o fermento dos pães
Nem agradecemos o maná que cai do céu
Num deserto deslumbrante
O sonho era beber o leite da terra prometida
Comer as tâmaras adocicadas cálido sol
Tomar a água que brota da pedra
Dedilhar uma cítara

O poeta é apenas um cultivador
De estrelas
É um namorado que recita verso
Para seus corações
E elas acreditando nestas loucas paixões
Vem plantar hortaliças no teu jardim

O amor sempre vai bem
Numa xícara de jasmim
E as tardes em Calamas
Entre manguitas dolcitas
E cantos de japim




3 comentários:

  1. Deus planta, e o poeta colhe os morangos...
    Bom dia, Luiz!

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  2. Acróstico para um artesão da palavra

    Lúdico lirismo esse seu poetar
    Um encontro de águas opostas
    Imagens movediças do rio-mar,
    Zona franca daquilo que gostas.

    A Amazônia do boto cor de rosa
    Longe é um lugar que não existe
    Floresta formosa, farta, fabulosa
    Resíduo dum mundo que resiste.

    Ele foi filósofo e tornou-se poeta
    Deixou Solimões foi ao Madeira
    Ontem até hoje continua esteta
    Não se pode lhe atribui besteira.

    Um poeta de muita criatividade
    Nos seus versos de livres rimas
    Ele constrói ideias na verdade
    São verdadeiras obras primas.

    Devo lembrar que é ele o tecelão
    Embora duma pessoa disfarçado
    Medida seus versos como refrão
    Em termos muito bem colocados.

    Luiz Alfredo é um baré artesão
    Ourives de versos concatenados.

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  3. Agradecimentos poéticos
    grande poetas de eternos haicais
    e outros belos poemas

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