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domingo, 31 de agosto de 2014

No nervo do lápis


Um dia os músculos do meu lápis
Terão dores profundas nas suas articulações
E não poderão escrever mais meus versos
Nas peles dos papéis
Nem nas rotas das constelações
Nem nos papelões
Nem na cútis dos camaleões

Não abrirei as janelas para conversar
Com as estrelas
Nem com as galáxias dos vaga-lumes
Nem beberei as chamas das lamparinas
Azuis
Nem beijarei as entranhas do luar

O que restou do verbo amar foi um pretérito
Imperfeito
Que vai se apagando no glaucoma
No coma de um coração abandonado
Na cômoda de um abajur âmbar
Migalhas náuseas drágeas branca
Na cama insones filmes nas fronhas

O tempo apagou sua conjugação
Os sonetos de uma quase eternidade
Ficaram efêmeros liquefeitos desfeitos
Rarefeitos não conseguiram declamar
O conceito deste amor perfeito

Ainda gravo poemas no gravador
De fitas ultrapassadas
Com a voz pouca rouca louca
As teclas negras da minha Royal
Começaram sentir dores profundas
Nas articulações
As lembranças começam ficar apagadas
Os poemas ficaram sem textura
A tinta foi extinta com o amor

Não sofri tanto porque comecei a namorar
Com minha solidão
Junto falamos de orquídeas
E comemos chocolates
Tomamos café do Sudão
E escutamos músicas nas partituras
Na maior altura



3 comentários:

  1. O tempo passa, o sonho não

    Lápis: afinal por que me consome,
    Se acaba me matando ao escrever?
    Pois qualquer que seja teu nome
    Tudo que produzes será vir a ser.

    Não beberás chama da lamparina
    Tampouco conversarás com luar
    Pois constelação já não te ilumina
    Pontanto estás em outro patamar.

    Na tua cama essa insone fronha
    Sabe de ti um universo de eventos
    Desde quando te trouxe a cegonha
    Até teus recôndidos pensamentos.

    Então o seu íntimo sonho exponha
    Pra não se tornar vate lamuriento.

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  2. Este dia chegará para todos nós...
    bom dia, Luiz.

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  3. Enquanto não chega a gente vai nesse deleite de ler seus versos...

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