Seguidores

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Cais de um Antigo Porto


O tempo mudou a tua face
E a minha também
Não nos reconhecemos na esquina
Do tempo
E nos espaços transtornados

Não encontrei na rua
Da minha infância
O flamboyant nem o beija-flor
O cercado de flores amarelas
Nem o pé de fruta – pão

Ficaram apenas as lembranças
Dos velocípedes
Cálido tacacá que queimava
Meus lábios
Gélido sorvete de cupuaçu
E o hálito das estrelas

As rugas do meu rosto
sobressaltado
E o viaduto pendurado no céu
De cimento armado
O caminho do asfalto negro
Apagou as margaridas
E crisântemos selvagens

O compasso do tempo esboçou
Um arranha-céu
Silenciou o murmúrio do riacho
Cristalino
O peito-roxo a cigarra o cagacibite

Apagou as parábolas da mangueira
Repleta de japins
Exilou os pássaros que acendiam
A aurora
Levou-os para um pretérito distante
Opaco na memória
Apagado na estante

Os papagaios de papel crepom
Coloridos
Que subiam aos céus
Com suas asas de buriti
O pião na palma da mão
ferida pelo cerol amolado
As bolinhas vidros transparentes
Foram apagadas para sempre

E eu fiquei perturbado
Diante dos semáforos da existência
O ser e o nada estavam ali
Bem de frente das minhas retinas
Cheias de idades...

Tantas saudades


                                   Luiz Alfredo - poeta








2 comentários:

  1. O tempo passa e só nos resta as lembranças.
    E nós vamos juntos envelhecendo...
    Adorei seu texto!!
    Agradeço as suas lindas palavras.
    Um ótimo fim de semana,beijinhos.

    ResponderExcluir
  2. RECUERDOS
    Tempo amarela folhas da vida
    Ficando apenas o palimpsesto
    Como se existência transferida
    E tudo o mais é somente resto

    Ficam transtornados os espaços
    E somente restam lembranças
    Do que sabíamos vemos traços
    Como da menininha de tranças.

    Atestam as rugas de meu rosto
    Que sou portador de certa idade
    Mas pior a vista, melhor o gosto.

    Sem abrir mão de toda vaidade
    Ainda me sinto bem predisposto
    De encarar de frente a verdade.

    ResponderExcluir