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sábado, 6 de julho de 2019

houve um tempo


Houve um tempo que meu amigo era uma garrafa
De conhaque
Uma caixa de cigarro Calton
Uma vitrola amarela arranhada
Rolando um Pink Floyd
Houve um tempo que passeava pelo cemitério
Sentava no túmulo de Vespasiano Ramos
E declamava os sonetos de Cousa Alguma
Clareado pelas velas que derramavam sua cera
Macabra
Por um luar ambarino perpassado por nuvens escuras
Penumbras sombrias
Estrelas apagadas
Perambulava solitários por ruas de filamentos apagados
Escuros muros pichados de riscos loucos
Sentimentos de bardos embriagados
Por poemas soturnos
Noturno sorumbático lunático
A donzela que eu amava sonhava gamava
Nem olhava pra mim
As flores do jardim derramavam nos seus orvalhos
Que eram minhas lágrimas
Sonhava profundos devaneios pesadelos paranóias
Meus poemas de cabeceira
Eram pedaços de versos de


Byron
E Álvares de Azevedo
Um Abajur quase apagado por mariposas
Impertinentes
Uma faca amolada na bainha
Um estojo amassado de barbitúricos
Um cinzeiro
Um velho isqueiro zipo
Uma Mariajuana proibida dada uns pau
Meio copo de  água
Houve um tempo de madrugadas
Levadas pela fumaça dos cigarros
Pelos goles de gim
Por acordes de um violão apaixonado
Versos inacabados
Realejo mal soprado
Sol que assustava meu vampiro
Luar que iluminava minha desesperança
E deixava meus poetas mui locos
Meus versos incoerentes
Meus bolsos sem documentos
Minha vida um barco sem velas
Um mar de ondas bravias
Sem albatrozes e farol
Uma rua que não me levava a lugar nalgum

                                       Luiz Alfredo - poeta


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