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sábado, 13 de setembro de 2014

No Tempo dos Japins




Em Calama os sonhos se confundiam
Com a realidade
Pensava que os pássaros nasciam
Das árvores
Que o ninho do japim era um fruto
Que de dentro dele saiam
Aqueles pássaros amarelos e negros
Com aquele canto sustenido
E asas de eternidade

Pensava que o sol no crepúsculo
Mergulhava no rio Madeira
Profundamente
Prendia a respiração
E com suas guelras de fogo
Emergia no amanhecer do outro
Lado
Trazendo os pássaros de um reino
Encantado
Acordando os girassóis
E as espigas dos milhos dourados

Pensava que as estrelas
Eram vaga-lumes
Mas uns dias viraram galáxias
E que meu barquinho de papel
Levaria-me pra longe
E que ela seria meu grande
Amor
Que hoje desbota numa fotografia
Em preto e branco

Ainda não tinha tomado
Minha primeira coca&cola
Nem voado nas asas da Panair
Escutado uma ópera
Nem lido um verso do Bandeira

Pensava que as juras de amor
Feitas nas labaredas da fogueira
Tremeluzentes
Eram para sempre
Não havia lido à metafísica
De Aristóteles
Nem Teeteto
E que os caminhos do ocidente
Apagariam minha vila
Do mapa






2 comentários:

  1. O sol de Calama

    Numa vida sob a mágica de Calama
    Onde o Madeira apaga sol nas tardes
    E nas manhãs o acende em chamas
    Muito mais imaginação do poeta arde.

    Com vaga-lumes a noite pintalgando
    Talvez mil olhinhos curiosos sem fim
    Novos filhotes nos ninhos pipiando
    Nos ninhos/frutos do pássaro japim

    Jovem poeta em saudável inocência
    Pensava naquelas juras sempiternas.
    Não lhe acudia ainda que a essência
    Do amor está em sutis coisas ternas.

    Pensava na Calama em decadência
    Que as veredas da memória governa.

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  2. Saudades de ler seus sempre belos poemas poeta. Abraços!!

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