Claro são os olhos do dia
Suas pupilas é um sol
brilhante
Suas retinas prismas de um
diamante
Seus óculos escuros uma
poesia
Ultra-romântica
Aquela vida que ia calma a
todos
Os lugares
Aquela vila quase calada
silenciosa
Bucólica
Um verão cheio de andorinhas
Uma igrejinha católica
Seu sino conhece uma bela
canção
Um hino em forma de oração
O cata-vento tritura o vento
Com suas hélices eólicas
O moinho tritura as
parábolas
Dos grãos
Tudo que passa nessa vila
Vai devagar
A orquídea de muitas luas
A gravidez de algumas flores
A procissão levando seu
andor
O beija-flor osculando a
hibisco
A lavadeira com a trouxa na
cabeça
A rendeira com seu bordado
rendados
De eternidade
O terço rezado no terreiro
Mas um dia a dialética
cresceu
E na sua antagônica mudança
Levou minha esperança para
outros
Alhures
Lugares agitados
Que a noite de fumaça não
deixa
Ver seus quasares
Seus luares são nublados
Não consigo ver os reflexos
estelares
Nos teus esgotos programados
Seus poemas concretos dizem
Tudo numa palavra
Seus muros de cimento
Onde quaro meus poemas
pichados
Mas não esqueci a escola
Onde não aprendi a escrever
O canto da sabiá
Os músculos desenhados da
canoa
O boi-bumbá
E a Maria-Fumaça
E as tardes quentes numa
cuia
De tacacá
E eu pensava que tudo aquilo
Nunca ia acabar
Soneto-acróstico
ResponderExcluirÀ vila
Aquele bucolismo que conquista
E seu sino que conhece canções
Suas cores que não ferem a vista
Seu moinho que tritura os senões.
A procissão sob o andor curvada
Cata-vento colhendo suas brisas
Acalma vida mansa e mais nada
Lá onde maria-fumaça atemoriza.
Mas não esqueçamos da escola
Ali aprender é brincadeira apenas
Vila calma onde garoto joga bola.
Inda contam as coisas pequenas
Livres no pátio galos e galinhola
Aqui onde vida ainda vale a pena.