No meio do caminho
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra
Carlos Drummond de Andrade - poeta
En Revista de Antropofagia, 1928
Incluido en Alguma poesia (1930)
No meio do meu ureter tinha
uma pedra
tinha uma pedra de1,20 cm
tinha uma pedra no meu ureter
tinha uma pedra de
tinha uma pedra no meu ureter
no meio do meu ureter tinha uma pedra
Nunca esquecerei deste acontecimento
nas minhas vias urinárias tão machucadas
Nunca esquecerei que no meio do
ureter
tinha um cálculo renal
tinha um cálculo no meio do ureter
no meio do meu canal um inerte cálculo
tinha um cálculo no meio do ureter
no meio do meu canal um inerte cálculo
Luiz Alfredo - poeta
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSoneto-acróstico
ResponderExcluirSolidariedade
O poeta, equidistante do fim e do começo
Manifesta seu encontro com seixo quedo
Em que pode derruba-lo por leve tropeço
Indiferente não fica, e sequer sente medo.
O Luiz Alfredo para si, tal coisa não quer
Deixa a Drummond inspiração do andar
O que incomoda não é caminho, é ureter
Com suas dores atrozes se põe a poetar.
Assim, pasticha Drummond com talento
Meio do ureter ao invés de meio caminho
Incrustrada pedra que lhe traz sofrimento,
Negócio chato, dolorido e mui comezinho.
Há, contudo, no poema, certo cabimento:
O sentido que nesta dor não está sozinho.