Lembro do
nosso desregrado amor
Quando
comíamos pedaços de luar
Inalávamos
polens de mariposas
Inflamadas
pelo querosene da lamparina
Comíamos
caramelos com gomos de tangerinas
E bebíamos
orvalhos da madrugada
E enchíamos
os olhos de estrelas
O cálice do
teu umbigo de vinho
Das
doidivanas insanas profanas
Vindimas
Deixávamos
a vitrolas de fado
Enfadada
Os sonetos
de amor de Camões
Exaustos
Os últimos
versos as mínguas
Trôpegos na
língua
Afônicos e
perdidos nas rimas
Os acordes machucados
Roucos
Sangrando
Nas cordas
de nylon
Do violão
Que nos
cálidos desejos
Nos loucos
arpejos
Balbuciava uma
canção
Apaixonada
Desvairados
desejos
Ardentes e sôfregos
beijos
Perdíamos a
respiração
Sujávamos de
batom
E borrávamos
a maquiagem
E manchávamos
as tatuagens
E nos perdíamos
no profundo horizonte
Do olhar
Herméticos supercílios
Traficados pelos
cílios
Não conseguíamos
mais pensar
Era um
tempo em que incendiávamos
Os olhos
dos dragões
Com lavas
vermelhas
Confundíamos
os roteiros
Dos pássaros
Desnudávamos
as espigas de milhos
Acordávamos
as pétalas
Do sol
E nem esperávamos
o romper
Do dia
O cantar da
cotovia
Para começar
a viagem
Luiz Alfredo - poeta
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