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domingo, 31 de agosto de 2014

No nervo do lápis


Um dia os músculos do meu lápis
Terão dores profundas nas suas articulações
E não poderão escrever mais meus versos
Nas peles dos papéis
Nem nas rotas das constelações
Nem nos papelões
Nem na cútis dos camaleões

Não abrirei as janelas para conversar
Com as estrelas
Nem com as galáxias dos vaga-lumes
Nem beberei as chamas das lamparinas
Azuis
Nem beijarei as entranhas do luar

O que restou do verbo amar foi um pretérito
Imperfeito
Que vai se apagando no glaucoma
No coma de um coração abandonado
Na cômoda de um abajur âmbar
Migalhas náuseas drágeas branca
Na cama insones filmes nas fronhas

O tempo apagou sua conjugação
Os sonetos de uma quase eternidade
Ficaram efêmeros liquefeitos desfeitos
Rarefeitos não conseguiram declamar
O conceito deste amor perfeito

Ainda gravo poemas no gravador
De fitas ultrapassadas
Com a voz pouca rouca louca
As teclas negras da minha Royal
Começaram sentir dores profundas
Nas articulações
As lembranças começam ficar apagadas
Os poemas ficaram sem textura
A tinta foi extinta com o amor

Não sofri tanto porque comecei a namorar
Com minha solidão
Junto falamos de orquídeas
E comemos chocolates
Tomamos café do Sudão
E escutamos músicas nas partituras
Na maior altura



quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Acordes Apaixonados



Está na hora de ir embora
Mas ficará a primavera
Com suas flores
E colibris

Ficará o bem-te-vi
Cantando que me viu
No seu fio de metal

O vento continuará
Com seus sussurros soprando
Os guardanapos em brancos
Sem meus pobres versos
E as folhas secas contorcidas
Mortas
Pelas ruas do ocidente

O calendário da minha vida
Parou de ser debulhado
Ficou apenas meu corvo
Com seus presságios grasnados
Com suas córneas negras
Olhando o extenso milharal
Da vida

Ficou o arco-íris e suas cores
Imutáveis intransponíveis
Filhas do céu
E do dilúvio

E aquele blues
Que na ausência dos teus beijos
Supriu-se com seu realejo
E machucou meu coração machucado
Com seus acordes apaixonados



domingo, 17 de agosto de 2014

Poeta Marginal


Tudo deu errado na minha vida
Papai queria que fosse engenheiro
Construísse prédios
Fizesse pontes naqueles rios
Mas me tornei um poeta
Marginal
Um bardo violado
Transeuntes das periferias
Escritor de muros abandonados

Mamãe queria que me casasse
Com ela
Estudante da Escola Normal
Filha de dona Maristela
Mas me juntei com Maria Juana
Quase deu rolo
Quase de cana
Estranha cara de melenas
Desgrenhadas
Sem endereços adereços
Estranhos de estanho
Tatuagens
Outras viagens

Quando morri fiquei sem epigrafe
Sem túmulo
Sem testamento
Sem missa
Por que meu corpo não foi encontrado
Minha alma perdida
Enluarei-me