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domingo, 13 de abril de 2014

Maryland is Free






Ando agora livremente pelas ruas
De Maryland
A brisa da baia toca meu rosto
Extasiado
Maryland is free
Maryjuana pode queimar
Entre meus dedos livremente
As flores proibidas agora podem
Brotar nos canteiros
As borboletas Baltimore
Podem pousar em suas pétalas
Seu aroma pode correr
Pelas ruas da linda cidade
Seus néctares podem ser bebidos
Pelos colibris
Pelas almas entristecidas
Pelos lábios reprimidos
Ressecados pela lei seca


Posso andar por aí
Sem medo de ir para prisão
Tomar uma xícara de chá
Fumegante
Com biscoito amanteigados
De milho
Ler os estribilhos do poeta
Francis Scott Key
Escutar o corrupião azul
Numa quercus alba
E aquele velho blues
Beber pedaços da aurora
No remanso do rio
Cantar pedaços do hino
Em inglês espanholado
Agora uma verdadeira canção
De liberdade.
Ler meu Tio Patinhas
Comer meu chocolate de baunilha
Mascar meu chiclete
Ler minha tirinha de jornal


Maryland terra das belas recordações
A liberdade em versos vem
Das tuas entranhas
Tua bandeira pode tremular
De verdade
Tua estrela pode brilhar
No horizonte eterno

Aqui pode se amar como quiser
Pode se apaixonar por Mary Juana
Ou por uma qualquer
Pode beijar os seus lábios
E sugar sua saliva de mel
Até o final do céu
Sem ir para um tribunal...


                   Luiz Alfredo - poeta



Suru(f)bim






No plaino de águas turvas
Peixes óbitos bóiam
Plantas aquáticas são leitos
Da era da irracionalidade

Luzes da cidade refletem
Na córnea opaca
Num macabro banzeiro
Signo sem vida
Tez ferida
Vida arrefecida

Epigrafe na lápide liquida
Aqui jaz
Holocausto de cardumes
Arraias sem vôos
Mandis surubins tracajás
Poraquês sem filamentos
Assaz
Nos barrancos da minha aldeia



                   Luiz Alfredo - poeta

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Uma só Andorinha Faz-se um Verso



Um dia tive a coragem de juntar
Palavras
E fiz um verso
Mesmo tendo errado a escrita
De uma delas
E apagado com uma borracha
A letra de outra
Guardei no meu bolso
E no meu coração

O diabo é que vivia balbuciando
Este verso
Que acabou virando
Uma canção
Depois grafitei num papelão
Que encontrei pelo chão
Mesmo não sendo poeta
Fiz daquele verso
Minha primeira poesia

Mesmo inacabada digamos
Assim
Virei um passarim
Com este versim
Tão pequeninim

Andorinha aproximas-te-me do verão...


                              
                                Luiz Alfredo - poeta

Pétalas Insones



Os girassóis abriram as pétalas
Do sol
E os corvos encheram seus tímpanos
Com seus grasnados esfomeados

Ele já tinha desfolhado as espigas
Douradas de milhos
Quando abri minhas sonolentas
Retinas
E desfraldei as cortinas

O sol traçava seu roteiro
Com sua régua e compasso
De fogo
Meu relógio com seus ponteiros
Meu tempo alienado

E eu tinha que traçar minha rotina
Aguar o jardim
Colocar ração aos jabutis
E ao meu cavalo-marinho
Estrumes nos meus cactos

Medir minha glicemia
Meditar na minha xícara fumegante
De chá
Uma fatia de mamão
Uma drágea branca
Pro bócio

Mastigar uns versículos
Degustar uma torrada
Com uma abstrata geléia
De framboesa
Ler uns versos da Plath
E ir deixando o ócio
E me mandar pra lide

Pagar a conta de energia
E o consorcio
Do meu fusca azulado
Arranhado
De segunda mão
E ir estudando os verbos passados
Em espanhol
Para a avaliação.


                       Luiz Alfredo - poeta


terça-feira, 1 de abril de 2014

Nos Tempo da Cotovia


Lembro do nosso desregrado amor
Quando comíamos pedaços de luar
Inalávamos polens de mariposas
Inflamadas pelo querosene da lamparina
Comíamos caramelos com gomos de tangerinas
E bebíamos orvalhos da madrugada
E enchíamos os olhos de estrelas
O cálice do teu umbigo de vinho
Das doidivanas insanas profanas
Vindimas

Deixávamos a vitrolas de fado
Enfadada
Os sonetos de amor de Camões
Exaustos
Os últimos versos as mínguas
Trôpegos na língua
Afônicos e perdidos nas rimas
Os acordes machucados
Roucos
Sangrando
Nas cordas de nylon
Do violão
Que nos cálidos desejos
Nos loucos arpejos
Balbuciava uma canção
Apaixonada

Desvairados desejos
Ardentes e sôfregos beijos
Perdíamos a respiração
Sujávamos de batom
E borrávamos a maquiagem
E manchávamos as tatuagens
E nos perdíamos no profundo horizonte
Do olhar
Herméticos supercílios
Traficados pelos cílios
Não conseguíamos mais pensar

Era um tempo em que incendiávamos
Os olhos dos dragões
Com lavas vermelhas
Confundíamos os roteiros
Dos pássaros
Desnudávamos as espigas de milhos
Acordávamos as pétalas
Do sol
E nem esperávamos o romper
Do dia
O cantar da cotovia
Para começar a viagem

              
                      Luiz Alfredo - poeta